NOVA IORQUE/WASHINGTON, DC – Nenhuma mãe deveria dar a sua própria vida para poder dar vida a outro ser. Infelizmente, a prevenção da mortalidade materna continua a ser um desafio global persistente. O terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas pede aos países que se comprometam a reduzir as respetivas taxas de mortalidade materna para menos de 70 por cada 100 mil nados-vivos até 2030. Ao ritmo atual, prevê-se que o mundo fique muito aquém desta meta, o que resultará em mais de um milhão de mortes adicionais, na sua esmagadora maioria evitáveis.
Acabar com as mortes maternas evitáveis é surpreendentemente difícil. Para começar, podem ocorrer muitas causas diferentes em todas as fases da gravidez, o que torna difícil determinar o sucesso de uma intervenção política e a sua capacidade de efetuar mudanças duradouras. Em segundo lugar, o número anual de mortes maternas situa-se na ordem das centenas de milhares – e não dos milhões. Nestas circunstâncias, os doadores e os governantes preferem investir noutros imperativos de saúde pública, onde podem ter um maior impacto e receber informações mais precisas e atempadas sobre os resultados.
Mas isso não deve diminuir a importância da mortalidade materna. A perda de uma mãe pode devastar a família, a começar pelos outros filhos que ela possa já ter. É provável que ela também cuidasse de familiares ou idosos na sua comunidade ou desempenhasse um papel económico importante como agricultora ou comerciante. A sua morte pode afetar direta e negativamente 10 a 20 pessoas, ou mais, abrangendo várias gerações. Os estudos sugerem que as crianças cujas mães sobrevivem têm maior probabilidade de viver para além dos dez anos de idade e de permanecer mais tempo na escola.
Ativistas, profissionais e governantes fizeram progressos notáveis no combate à mortalidade materna em países como Etiópia, Índia, Nigéria, Serra Leoa e Tanzânia. Para ajudar outros países a reproduzir este desempenho, copresidimos recentemente o “Room 17”– um grupo de trabalho ligado ao ODS 17 para revitalizar parcerias – como parte da Iniciativa “17 Rooms”. Reunimos os principais profissionais de saúde materna e peritos na vanguarda da reformulação de instituições globais para discutir uma abordagem baseada num “centro de impacto” ou hub de impacto - impact hub - como solução para o problema.
Um centro de impacto é uma organização que liga atores governamentais e não governamentais para prosseguir uma missão singular e mensurável, com o objetivo de aumentar as soluções eficazes, em vez de começar do zero. No caso da saúde materna, várias organizações regionais e globais, incluindo a Global Financing Facility, a Partnership for Maternal, Newborn & Child Health e a AlignMNH, já desempenham algumas destas funções.
Para complementar os esforços existentes, o grupo de trabalho propõe um centro de impacto global centrado no objetivo de zero mortes maternas até 2030. Para medir o progresso em direção a este objetivo, o centro reuniria profissionais de saúde materna para desenvolver uma métrica fiável a nível clínico, como os “dias sem mortes”. Em vez de se concentrar no número de mortes, esta abordagem – que foi testada na Etiópia e na Serra Leoa – dá ênfase à vida, com os médicos e as famílias a celebrarem um parto saudável para o bebé e para a mãe.
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A utilização de um sistema de pagamento por desempenho associado a esta métrica comum permitiria ao centro de impacto coordenar esforços entre vários parceiros e doadores. Também poderia fornecer programas de reforço de capacidades e formação sobre ferramentas e intervenções que conseguem apoiar a saúde materna de forma holística. Por exemplo, os governantes podem efetuar transferências digitais de dinheiro direcionadas para ultrapassar as barreiras financeiras aos cuidados de parto, ao mesmo tempo que implementam estratégias para melhorar os cuidados pré e pós-natais e investem numa força de trabalho abrangente dedicada à saúde materna.
É claro que esses esforços têm de ser adaptados aos contextos locais. As comunidades variam muito em termos de fragilidade política e económica, resiliência do sistema de saúde, necessidades culturais e prioridades em matéria de cuidados maternos. As transferências digitais de dinheiro podem ter um maior impacto em contextos economicamente frágeis, enquanto os programas de formação que melhoram a deteção precoce de gravidezes de alto risco são mais eficazes em regiões com sistemas de saúde resilientes. Ao vincular o financiamento a resultados e não a abordagens prescritas, o centro de impacto será capaz de apoiar uma série de soluções.
Além disso, esta organização global não se limitaria a reunir fundos e outros recursos. Pode também criar uma rede de centros de impacto nacionais e locais, unidos pelo compromisso de alcançar zero mortes maternas até 2030 (e pela sua determinação em utilizar os mesmos critérios de medição). Isto permitiria que os profissionais do desenvolvimento e os financiadores lidassem mais facilmente com a tensão entre dar às comunidades a autonomia para desenvolverem estratégias adaptadas às condições locais e manter a conectividade global necessária para a partilha de conhecimentos, recursos e objetivos.
Para além de aumentarem as soluções comprovadas, estes centros também irão incentivar a inovação no sentido ascendente (da base para o topo) e o investimento em novas abordagens. Mas a aliança global tem de ter em conta potenciais problemas, como a “fuga de cérebros” no setor da saúde, em que as comunidades mais ricas ou mais inovadoras atraem parteiras e outros profissionais de cuidados maternos das comunidades mais pobres, bem como os desafios da integração das transferências digitais de dinheiro nas infraestruturas dos sistemas de saúde existentes.
O centro de impacto proposto pode promover uma parceria global genuína, desde os fornecedores locais até aos sistemas nacionais de saúde e às organizações internacionais, todos empenhados em acabar com o flagelo da mortalidade materna. Ao associar o trabalho orientado para a comunidade, que pessoas extraordinárias estão a fazer no terreno, a uma missão abrangente com apoio direcionado e marcos mensuráveis, poderemos finalmente ser capazes de acolher a alegria de uma nova vida sem a sombra da morte.
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Bashar al-Assad’s fall from power has created an opportunity for the political and economic reconstruction of a key Arab state. But the record of efforts to stabilize post-conflict societies in the Middle East is littered with failure, and the next few months will most likely determine Syria's political trajectory.
say that Syrians themselves must do the hard work, but multilateral assistance has an important role to play.
The US president-elect has vowed to round up illegal immigrants and raise tariffs, but he will probably fail to reinvigorate the economy for the masses, who will watch the rich get richer on crypto and AI. America has been here before, and if Trump doesn’t turn on the business class and lay the blame at its feet, someone else will.
thinks the next president will be forced to choose between big business and the forgotten man.
NOVA IORQUE/WASHINGTON, DC – Nenhuma mãe deveria dar a sua própria vida para poder dar vida a outro ser. Infelizmente, a prevenção da mortalidade materna continua a ser um desafio global persistente. O terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas pede aos países que se comprometam a reduzir as respetivas taxas de mortalidade materna para menos de 70 por cada 100 mil nados-vivos até 2030. Ao ritmo atual, prevê-se que o mundo fique muito aquém desta meta, o que resultará em mais de um milhão de mortes adicionais, na sua esmagadora maioria evitáveis.
Acabar com as mortes maternas evitáveis é surpreendentemente difícil. Para começar, podem ocorrer muitas causas diferentes em todas as fases da gravidez, o que torna difícil determinar o sucesso de uma intervenção política e a sua capacidade de efetuar mudanças duradouras. Em segundo lugar, o número anual de mortes maternas situa-se na ordem das centenas de milhares – e não dos milhões. Nestas circunstâncias, os doadores e os governantes preferem investir noutros imperativos de saúde pública, onde podem ter um maior impacto e receber informações mais precisas e atempadas sobre os resultados.
Mas isso não deve diminuir a importância da mortalidade materna. A perda de uma mãe pode devastar a família, a começar pelos outros filhos que ela possa já ter. É provável que ela também cuidasse de familiares ou idosos na sua comunidade ou desempenhasse um papel económico importante como agricultora ou comerciante. A sua morte pode afetar direta e negativamente 10 a 20 pessoas, ou mais, abrangendo várias gerações. Os estudos sugerem que as crianças cujas mães sobrevivem têm maior probabilidade de viver para além dos dez anos de idade e de permanecer mais tempo na escola.
Ativistas, profissionais e governantes fizeram progressos notáveis no combate à mortalidade materna em países como Etiópia, Índia, Nigéria, Serra Leoa e Tanzânia. Para ajudar outros países a reproduzir este desempenho, copresidimos recentemente o “Room 17”– um grupo de trabalho ligado ao ODS 17 para revitalizar parcerias – como parte da Iniciativa “17 Rooms”. Reunimos os principais profissionais de saúde materna e peritos na vanguarda da reformulação de instituições globais para discutir uma abordagem baseada num “centro de impacto” ou hub de impacto - impact hub - como solução para o problema.
Um centro de impacto é uma organização que liga atores governamentais e não governamentais para prosseguir uma missão singular e mensurável, com o objetivo de aumentar as soluções eficazes, em vez de começar do zero. No caso da saúde materna, várias organizações regionais e globais, incluindo a Global Financing Facility, a Partnership for Maternal, Newborn & Child Health e a AlignMNH, já desempenham algumas destas funções.
Para complementar os esforços existentes, o grupo de trabalho propõe um centro de impacto global centrado no objetivo de zero mortes maternas até 2030. Para medir o progresso em direção a este objetivo, o centro reuniria profissionais de saúde materna para desenvolver uma métrica fiável a nível clínico, como os “dias sem mortes”. Em vez de se concentrar no número de mortes, esta abordagem – que foi testada na Etiópia e na Serra Leoa – dá ênfase à vida, com os médicos e as famílias a celebrarem um parto saudável para o bebé e para a mãe.
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É claro que esses esforços têm de ser adaptados aos contextos locais. As comunidades variam muito em termos de fragilidade política e económica, resiliência do sistema de saúde, necessidades culturais e prioridades em matéria de cuidados maternos. As transferências digitais de dinheiro podem ter um maior impacto em contextos economicamente frágeis, enquanto os programas de formação que melhoram a deteção precoce de gravidezes de alto risco são mais eficazes em regiões com sistemas de saúde resilientes. Ao vincular o financiamento a resultados e não a abordagens prescritas, o centro de impacto será capaz de apoiar uma série de soluções.
Além disso, esta organização global não se limitaria a reunir fundos e outros recursos. Pode também criar uma rede de centros de impacto nacionais e locais, unidos pelo compromisso de alcançar zero mortes maternas até 2030 (e pela sua determinação em utilizar os mesmos critérios de medição). Isto permitiria que os profissionais do desenvolvimento e os financiadores lidassem mais facilmente com a tensão entre dar às comunidades a autonomia para desenvolverem estratégias adaptadas às condições locais e manter a conectividade global necessária para a partilha de conhecimentos, recursos e objetivos.
Para além de aumentarem as soluções comprovadas, estes centros também irão incentivar a inovação no sentido ascendente (da base para o topo) e o investimento em novas abordagens. Mas a aliança global tem de ter em conta potenciais problemas, como a “fuga de cérebros” no setor da saúde, em que as comunidades mais ricas ou mais inovadoras atraem parteiras e outros profissionais de cuidados maternos das comunidades mais pobres, bem como os desafios da integração das transferências digitais de dinheiro nas infraestruturas dos sistemas de saúde existentes.
O centro de impacto proposto pode promover uma parceria global genuína, desde os fornecedores locais até aos sistemas nacionais de saúde e às organizações internacionais, todos empenhados em acabar com o flagelo da mortalidade materna. Ao associar o trabalho orientado para a comunidade, que pessoas extraordinárias estão a fazer no terreno, a uma missão abrangente com apoio direcionado e marcos mensuráveis, poderemos finalmente ser capazes de acolher a alegria de uma nova vida sem a sombra da morte.