frankel162_Matias BagliettoNurPhoto via Getty Images)_us dollar Matias Baglietto/NurPhoto via Getty Images

Por que as ações, o ouro e o dólar estão disparando?

CAMBRIDGE – O mercado de ações dos EUA tem vivido uma grande fase nos últimos dois anos. O S&P 500 subiu cerca de 40% desde que o presidente Joe Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021 e, juntamente com o Dow Jones e o NASDAQ, tem repetida vezes estabelecido novos recordes. Além disso, o dólar se fortaleceu de modo acentuado em relação a todas as principais moedas, enquanto o preço do ouro disparou para um recorde histórico de US$ 2.470 por onça no início deste mês.

Economistas e comentaristas têm penado para explicar essas tendências. Embora o aumento dos preços do ouro possa ser atribuído às percepções de risco elevadas decorrentes de incertezas políticas e geopolíticas, essa teoria não explica o mercado de ações em alta. Por outro lado, o declínio no índice de volatilidade VIX desde 2022 pode explicar a alta do mercado de ações dos EUA, mas não o aumento nos preços do ouro.

Uma possível explicação para o boom nas ações é o rápido surgimento da inteligência artificial desde o final de 2022, que fez com que as ações de empresas como a fabricante de chips NVIDIA disparassem. Contudo, embora o setor de tecnologia tenha experimentado os maiores ganhos e atraído a maior atenção, o mercado tem subido de modo constante em todos os setores, mesmo excluindo as ações de tecnologia.

Alguns acreditam que a explicação para o aumento dos preços das ações e do ouro está na política monetária dos EUA. As taxas de juros dos EUA aumentaram nos últimos dois anos e meio, incluindo as taxas de longo prazo. Isso deveria ter reduzido os preços das ações e das commodities. Normalmente, os mercados de ações caem quando as taxas de juros aumentam, desde que outros fatores permanecem inalterados. A razão é que os aumentos das taxas de juros reduzem o valor presente descontado dos ganhos corporativos futuros, levando investidores a se deslocar das ações para os títulos. Além disso, o preço do ouro também tende a cair quando as taxas de juros reais (ajustadas pela inflação) sobem e vice-versa.

Como, então, alguém poderia argumentar que a política monetária dos EUA pode explicar os picos nas ações e no ouro? O argumento é que os investidores do mercado, de modo bastante natural, esperam que o Federal Reserve comece a aliviar a política monetária ainda este ano, o que, em tese, poderia explicar tanto os altos preços das ações quanto do ouro.

Sendo assim, o que explica os mercados financeiros recentes? Seria o aperto da política monetária dos EUA nos últimos dois anos ou as expectativas atuais de uma política monetária mais frouxa no futuro?

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Para uma resposta, podemos recorrer ao mercado de câmbio. A evidência mais forte contra a explicação monetária para os altos preços das ações e do ouro é que o dólar dos EUA também está mais alto agora, cerca de 14% do que estava há três anos. Se as taxas de juros reais estivessem baixas ou com expectativa de cair, o dólar teria enfraquecido nesse período.

Outra possível explicação para o aumento nos preços do ouro é que muitos países começaram a se diversificar para longe do dólar, particularmente potenciais adversários dos EUA, como a China. Mas se essa fosse a explicação correta, o dólar estaria enfraquecendo em vez de atingir uma alta de 20 anos. Além disso, há poucas evidências de que as tensões geopolíticas ampliadas entre Estados Unidos e China estão impulsionando uma mudança global para longe do dólar, ao menos até agora.

Outra explicação para a alta simultânea nos preços das ações, do ouro e do dólar reside numa economia americana robusta, alimentando forte demanda por esses ativos.

Sem dúvida, o crescimento econômico dos EUA desacelerou para 2,5% em 2023. No entanto, ainda superou a taxa de crescimento média deste século – cerca de 2% desde 2001. A demanda do consumidor permaneceu forte, impulsionada pelas principais leis econômicas do governo Biden – particularmente a Lei CHIPS e Ciência, a Lei de Investimento em Infraestrutura e Empregos e a Lei de Redução da Inflação – que ajudaram a impulsionar o crescimento em 2021 e 2022.

Mais importante, a atividade econômica superou consistentemente as expectativas nos últimos três anos. Há dois anos, a crença predominante entre analistas e o público em geral era de que os EUA estavam à beira de uma recessão ou já em recessão. Porém, contrariando essas expectativas, o PIB real continuou a crescer.

O crescimento do PIB foi excepcionalmente alto em 2021, e a atividade econômica continuou a surpreender de modo positivo em 2022 e 2023, apesar das previsões sombrias de uma recessão prolongada. O crescimento continuou, até agora, em 2024. E embora nem democratas nem republicanos estejam inclinados a reverter a expansão fiscal para conter o aumento da dívida nacional, a demanda por ativos dos EUA como um porto seguro permaneceu robusta, sugerindo que os investidores globais têm confiança na estabilidade e resiliência da economia americana.

Cada vez que o crescimento supera as expectativas, a demanda por ações americanas, ouro e dólar aumenta. Mas ainda não se sabe se essas tendências persistirão após a eleição presidencial de

Tradução por Fabrício Calado Moreira

Jeffrey Frankel, Professor de Formação e Crescimento de Capital na Universidade de Harvard, atuou no Conselho de Assessores Econômicos do Presidente Bill Clinton. É associado de pesquisa no Bureau Nacional de Pesquisa Econômica dos EUA.

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