girl on bike STEFAN HEUNIS/AFP/Getty Images

Pedalar rumo ao sucesso no Quénia

NAIROBI — Como se deslocava para a escola quando era criança? Para muitas pessoas dos países desenvolvidos, a resposta é um meio de deslocação garantido (ou, quando muito, subestimado), tal como um autocarro escolar ou o automóvel dos pais. Contudo, a mobilidade fiável não é algo que os estudantes no Quénia tenham como garantido. Para os quenianos, o transporte para a escola é, literalmente, o nosso bilhete para um futuro melhor.

Em 2003, quando o Quénia criou a escola primária gratuita para todos, o total de matrículas subiu para 104%. Porém, este aumento drástico no acesso não foi acompanhado por uma expansão notável das instalações das escolas. Apesar do esforço enorme das escolas para receberem o afluxo de novos alunos, a insuficiência de salas de aula locais obrigou os alunos das zonas rurais a deslocarem-se para mais longe das suas casas para poderem aceder ao sistema de ensino. Este tempo adicional de deslocação reduziu as taxas de frequência e teve efeitos negativos nos resultados da aprendizagem; segundo o estudo, apenas 63% dos alunos que iniciaram os seus estudos numa escola de primeiro ciclo gratuita concluíram este nível, enquanto 58% dos alunos matriculados no ensino secundário nunca concluíram este nível de ensino.

Estas deslocações diárias exaustivas estão, portanto, a privar os jovens do Quénia da educação que lhes foi prometida; as raparigas, em particular, são prejudicadas pela distância. Felizmente, existe uma solução simples: fazer corresponder o ensino gratuito a bicicletas gratuitas.

Nas zonas rurais do Quénia esta medida está a ser introduzida lentamente e os resultados até ao momento são notáveis. Considere-se, por exemplo, a história de Carol, uma estudante do ensino secundário com 15 anos de idade, que, durante anos percorria diariamente seis quilómetros a pé para chegar à escola. Nascida numa família pobre, a Carol nem sempre podia trazer almoço e, como nem todas as escolas públicas quenianas servem refeições, muitas vezes não comia nada. Esta carência alimentar afectou gravemente a sua capacidade de aprendizagem e de concentração.

No entanto, o pior não era a longa caminhada e a fome; à semelhança de milhares de outras raparigas nas zonas rurais e de difícil acesso do Quénia, o dia da Carol não começa com a preparação para ir para a escola. Após acordar às quatro e trinta da manhã, prepara o pequeno-almoço para a sua família e limpa a sua casa feita de argila e colmo. Mais tarde, quando regressa a casa depois das aulas, lava a louça do dia e ajuda a fazer o jantar. Quando finaliza essas tarefas, a Carol está normalmente demasiado cansada para fazer os trabalhos de casa.

Porém, há alguns anos, a vida de Carol mudou significativamente quando lhe foi dado acesso a uma forma segura, rápida e fiável de deslocar-se para a escola. A World Bicycle Relief, uma instituição de solidariedade norte-americana que oferece bicicletas gratuitas às pessoas em África, reduziu o tempo do seu trajecto de duas horas para trinta minutos. Actualmente, a Carol chega à escola sentindo-se revigorada e alerta, e isto melhorou drasticamente a sua perspectiva e o seu desempenho. As suas notas, diz-me ela, também estão a melhorar.

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Os alunos não são os únicos que sofrem com a insuficiência de um transporte fiável. Quando os agricultores, os profissionais do sector da saúde e os trabalhadores do sector público não conseguem chegar pontualmente aos seus postos de trabalho, a produtividade e os resultados diminuem. A World Bicycle Relief ajudou igualmente estas pessoas. Desde 2005, mais de 400 000 bicicletas foram distribuídas em todo o mundo, beneficiando cerca de dois milhões de pessoas. No entanto, para as estudantes do Quénia, o dom da mobilidade tem sido particularmente transformador.

Actualmente, quando a Carol pedala para a escola na sua robusta bicicleta preta, está claramente a deitar por terra os estereótipos de género que permeiam muitas sociedades africanas. A pressão exercida sobre as raparigas no sentido de abandonarem a escola e casarem cedo é intensa; na verdade, quase um quarto do total de raparigas quenianas - cerca de 23% - casam-se antes dos 18 anos. Contudo, pelo facto de chegar à escola atempadamente, a Carol reforça a sua auto-estima e a dá a si própria uma oportunidade de sucesso escolar. Além disso, as hordas de homens exploradores que a assediavam diariamente quando se deslocava a pé são agora menos uma aborrecimento que tem de enfrentar.

Com uma simples mudança da sua mobilidade, o sucesso escolar está ao alcance da Carol e de muitas outras raparigas quenianas. O Quénia ainda tem muito trabalho a fazer para garantir o acesso ao ensino a todos os jovens que tenham essa pretensão. No entanto, no longo caminho para a igualdade a nível do ensino, é reconfortante saber que nem todas as soluções têm de ser complicadas.

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