ekue1_Peter DazeleyGettyImages_green_jar_coins Peter Dazeley/Getty Images

Fazer chegar o investimento verde onde ele é mais necessário

LOMÉ/BOGOTÁ – Os efeitos devastadores do aquecimento global estão a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Incêndios incontroláveis devastam a Amazónia. A subida do nível do mar ameaça submergir as ilhas do Pacífico. As secas e inundações em África e os furacões e tufões nas Caraíbas e no Sudeste Asiático estão a aumentar em frequência e intensidade. E, no entanto, os países mais afetados pela crise climática – quase todos eles no Sul Global – registam alguns dos mais baixos níveis de emissões de gases com efeito de estufa do mundo. Ajudar estes países vulneráveis a criar resiliência já não é uma opção; é imperativo.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP29), realizada em Baku, no Azerbaijão, terminou com a adoção de um Novo Objetivo Coletivo Quantificado, em que os países desenvolvidos se comprometeram a disponibilizar pelo menos 300 mil milhões de dólares por ano e todos os intervenientes concordaram em aumentar o financiamento público e privado dos países em desenvolvimento para 1,3 biliões de dólares por ano até 2035. Embora o acordo de Baku tenha sido, compreensivelmente, recebido com ceticismo, não temos outra alternativa senão redobrar os nossos esforços para atingir estes objetivos.

Os bancos públicos de desenvolvimento – principalmente os 27 membros do Clube Internacional de Financiamento do Desenvolvimento (IDFC, na sigla em inglês, que copresidimos), mas também os que fazem parte da rede mais alargada Financiamento em Comum – desempenharão um papel essencial na consecução destas metas. Os membros do IDFC são oriundos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que nos permite ter uma visão equilibrada. Para além da questão de saber se os montantes acordados em Baku são suficientes, acreditamos que um dos principais desafios do financiamento da ação climática é a eficiência. A qualidade dos projetos financiados, no quadro definido pelo Acordo de Paris sobre o clima, é o que permitirá aos membros do IDFC e a outros bancos públicos de desenvolvimento contribuir tanto quanto possível para uma transição sustentável.

Mas um desafio ainda maior, particularmente num mundo cada vez mais fragmentado, é como utilizar toda a força do sistema financeiro global contra as alterações climáticas. Aumentar o investimento verde levando em consideração as necessidades dos países de baixo e médio rendimento já não é suficiente. Em vez disso, o objetivo deve ser redirecionar todos os fluxos financeiros para a transição ecológica no âmbito do diálogo de Sharm el-Sheikh.

Para atingir este objetivo, é necessário ultrapassar três obstáculos. Em primeiro lugar, temos de deixar de financiar projetos e setores que agravem o aquecimento global – uma tarefa gigantesca, tendo em conta que a maioria dos fluxos financeiros continua a ser incompatível com os objetivos do Acordo de Paris. Em segundo lugar, temos de começar a responder às necessidades dos países mais vulneráveis ao clima, onde os esforços de adaptação e mitigação são subfinanciados de forma crónica. Por último, e talvez o mais importante, precisamos de uma revisão radical da arquitetura financeira mundial.

Esta transformação sistémica exige uma estreita colaboração entre os intervenientes públicos e privados. Os bancos públicos de desenvolvimento têm um papel importante a desempenhar neste domínio. Estão numa posição privilegiada para catalisar a mudança, influenciando as políticas públicas, reforçando as capacidades locais, apoiando as transições setoriais e criando as condições para mobilizar o capital privado. Este financiamento é decisivo para reduzir o fosso entre os compromissos anunciados em Baku e o enorme investimento necessário para os esforços de mitigação e adaptação às alterações climáticas no mundo em desenvolvimento.

Winter Sale: Save 40% on a new PS subscription
PS_Sales_Winter_1333x1000 AI

Winter Sale: Save 40% on a new PS subscription

At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.

Subscribe to Digital or Digital Plus now to secure your discount.

Subscribe Now

Embora os membros do IDFC tenham investido significativamente na transição energética global, a sua capacidade de transformar os sistemas financeiros nacionais e regionais pode ser o seu maior trunfo. Apoiar o desenvolvimento de agendas climáticas nacionais ambiciosas, ajudar as empresas e as comunidades a executar os seus planos de transição e reforçar a capacidade das instituições financeiras locais terá um efeito multiplicador maior do que qualquer montante de despesa direta.

Para desbloquear este potencial, há várias condições que têm de ser cumpridas. Em primeiro lugar, os mandatos e modelos de negócio de todos os bancos públicos de desenvolvimento têm de ser reforçados de modo a refletir estes objetivos. E quer estes bancos sejam multilaterais, nacionais ou subnacionais, precisam de ter os meios para atuar, o que requer a expansão da sua base de capital e a facilitação do seu acesso a recursos concessionais. Por último, mas certamente não menos importante, temos de desenvolver um quadro de responsabilização global que classifique os fluxos financeiros de acordo com a sua contribuição para a transição económica verde. Tal permitirá aos bancos de desenvolvimento trabalhar de forma sistemática e coordenada.

Uma abordagem deste género vai além das categorias tradicionais de financiamento climático. Naturalmente, continuará a ser necessário acompanhar os efeitos diretos do financiamento climático e assegurar o seu alinhamento com o Acordo de Paris. Mas também temos de desenvolver novas ferramentas para identificar e incentivar o que chamamos de “financiamento transformacional”: intervenções que, através da sua natureza sistémica ou efeitos catalíticos, ajudam a redirecionar fluxos financeiros muito maiores para a ação climática. Estas intervenções podem incluir a eliminação de barreiras de mercado, a criação de grandes conjuntos de projetos financiáveis e outras medidas que produzam mudanças estruturais.

A resposta à emergência climática exige a mobilização de todo o sistema financeiro. Os bancos públicos de desenvolvimento estão a liderar o caminho nesta frente, mas não conseguem elaborar quadros abrangentes e definir objetivos ambiciosos sozinhos. As soluções existem; temos de implementá-las antes que o tempo acabe.

https://prosyn.org/ZoV95gupt