BERKELEY – Durante seu primeiro mandato presidencial, Donald Trump adotou uma abordagem relativamente leve em relação ao Federal Reserve (Fed), ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial. Ele fez pressão verbal para que o Fed reduzisse as taxas de juros, mas não exigiu que a instituição consultasse a Casa Branca antes de tomar decisões ou desafiou de verdade sua independência.
No Banco Mundial, ele nomeouDavid Malpass, mas, fora isso, deixou a instituição intocada. ManteveDavid Lipton, um consultor dos democratas, como a segundo principal autoridade do FMI – nomeação que tradicionalmente é prerrogativa dos presidentes dos EUA.
A relutância de Trump em agir contra o Fed refletiu o reconhecimento de que os mercados financeiros reagiriam negativamente a um presidente interferindo em assuntos monetários. E Trump claramente se importava com os mercados, medindo publicamente seu sucesso pela trajetória dos preços das ações.
O FMI, por sua vez, cumpriu um propósito útil. Problemas caros em mercados emergentes, que de outra forma acabariam no colo do Tesouro de Trump, poderiam ser terceirizados para o Fundo. Já o Banco Mundial era grande e complexo demais para ser compreendido, muito menos controlado, como Malpass descobriu, para seu desgosto.
Desta vez pode ser diferente. Trump não se importa mais com os mercados financeiros, ao que parece. Ele menciona menos o assunto. Embora os índices das ações tenham caído de modo acentuado, especialmente na última semana, isso não o impediu de destruir funções governamentais importantes. Uma abordagem mais radical de desconstrução institucional está claramente em andamento.
Tendo desativado a USAID, seria contraditório para Trump tolerar a participação contínua dos EUA no Banco Mundial, organização ainda maior de auxílio. E retirar-se do Banco enquanto permanece no FMI seria o tipo de meia-medida peculiar até agora evitada por Trump 2.0. Assim como o Banco, o FMI inclui resiliência climática em seus empréstimos programáticos.
At a time of escalating global turmoil, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided.
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O FMI pode destacar o fato de ter um grande empréstimo pendente com o governo argentino, liderado por Javier Milei, amigo de Trump. Mas o Projeto 2025, que fornece o roteiro para o segundo mandato de Trump, não disfarça o fato de que os EUA devem se retirar de ambas as instituições de Bretton Woods. Trump já assinou umdecreto instruindo seu secretário de Estado e embaixador na ONU a revisar todas “organizações intergovernamentais internacionais” para determinar de quais os EUA devem se retirar.
O Banco e o FMI podem continuar cambaleando sem a participação dos EUA. Diferentemente do caso da USAID, o governo Trump não pode trocar as fechaduras ou desconectar os e-mails dos funcionários. Os seguranças de ambas as instituições não deixariam passar os acólitos recém-nascidos de Elon Musk.
Além disso, a contribuição financeira dos EUA ao Banco Mundial é pequena – apenasUS$ 2,8 bilhões em 2024. O Banco se financia principalmente emitindo títulos respaldados pela fé plena e crédito de seus membros. Como no caso da guerra na Ucrânia, países europeus poderiam intensificar seus esforços. Suas garantias permitiriam que o Banco continuasse a captar recursos nos mercados internacionais de capitais.
Os compromissos financeiros dos EUA com o FMI, por meio de cotas e os Novos Acordos para Empréstimos, são mais significativos, representando cerca deum quinto dos recursos do Fundo. Novamente, outros países teriam que assumir a responsabilidade. Esses países poderiam incluir a China, pois a saída dos EUA presumivelmente permitiria a reforma das cotas e do sistema de votação no FMI, algo que a China busca há muito tempo e os EUA bloquearam repetidas vezes.
O principal prejudicado em cada caso seriam os próprios EUA. O país seria visto como negando assistência financeira crítica a nações em desenvolvimento caso se retirasse do Banco Mundial. No caso do FMI, os EUA perderiam um canal de influência construtiva sobre as políticas econômicas e financeiras de outros países. Menos soft power em todas as frentes.
Para o Fed, a situação é, no mínimo, mais grave. Já vemos os primeiros sinais de inflação renovada com as tarifas e cortes de impostos propostos por Trump. Em algum momento, Trump não poderá mais culpar o governo do ex-presidenteJoe Biden pela inflação, então culpará o Fed. Suas políticas caóticas já começaram a minar aconfiança do consumidor, criando risco de recessão. Quando essa recessão se materializar, Trump culpará o Fed por não reduzir as taxas de juros mais depressa.
O procurador-geral interino de Trumpassegurou o poder do presidente sobre “uma série de agências independentes”. O presidente do Fed, Jay Powell, pode recorrer à Justiça se Trump tentar removê-lo sumariamente, assim como outros membros do conselho. Mas Trump não demonstra disposição de acatar decisões judiciais. Ele pode nomear um novo presidente do Fed que siga ordens da Casa Branca. Pode enviar os subordinados de Musk, apoiados por xerifes federais, para assumir os sistemas de computação do Fed. Dois meses atrás, esses cenários soariam absurdos. Agora, não mais.
Os mercados financeiros reagiriam de forma negativa e violenta. Aí sim descobriríamos, de uma vez por todas, se Trump se importa com a opinião deles.
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US President Donald Trump’s import tariffs have triggered a wave of retaliatory measures, setting off a trade war with key partners and raising fears of a global downturn. But while Trump’s protectionism and erratic policy shifts could have far-reaching implications, the greatest victim is likely to be the United States itself.
warns that the new administration’s protectionism resembles the strategy many developing countries once tried.
It took a pandemic and the threat of war to get Germany to dispense with the two taboos – against debt and monetary financing of budgets – that have strangled its governments for decades. Now, it must join the rest of Europe in offering a positive vision of self-sufficiency and an “anti-fascist economic policy.”
welcomes the apparent departure from two policy taboos that have strangled the country's investment.
BERKELEY – Durante seu primeiro mandato presidencial, Donald Trump adotou uma abordagem relativamente leve em relação ao Federal Reserve (Fed), ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial. Ele fez pressão verbal para que o Fed reduzisse as taxas de juros, mas não exigiu que a instituição consultasse a Casa Branca antes de tomar decisões ou desafiou de verdade sua independência.
No Banco Mundial, ele nomeou David Malpass, mas, fora isso, deixou a instituição intocada. Manteve David Lipton, um consultor dos democratas, como a segundo principal autoridade do FMI – nomeação que tradicionalmente é prerrogativa dos presidentes dos EUA.
A relutância de Trump em agir contra o Fed refletiu o reconhecimento de que os mercados financeiros reagiriam negativamente a um presidente interferindo em assuntos monetários. E Trump claramente se importava com os mercados, medindo publicamente seu sucesso pela trajetória dos preços das ações.
O FMI, por sua vez, cumpriu um propósito útil. Problemas caros em mercados emergentes, que de outra forma acabariam no colo do Tesouro de Trump, poderiam ser terceirizados para o Fundo. Já o Banco Mundial era grande e complexo demais para ser compreendido, muito menos controlado, como Malpass descobriu, para seu desgosto.
Desta vez pode ser diferente. Trump não se importa mais com os mercados financeiros, ao que parece. Ele menciona menos o assunto. Embora os índices das ações tenham caído de modo acentuado, especialmente na última semana, isso não o impediu de destruir funções governamentais importantes. Uma abordagem mais radical de desconstrução institucional está claramente em andamento.
Tendo desativado a USAID, seria contraditório para Trump tolerar a participação contínua dos EUA no Banco Mundial, organização ainda maior de auxílio. E retirar-se do Banco enquanto permanece no FMI seria o tipo de meia-medida peculiar até agora evitada por Trump 2.0. Assim como o Banco, o FMI inclui resiliência climática em seus empréstimos programáticos.
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O FMI pode destacar o fato de ter um grande empréstimo pendente com o governo argentino, liderado por Javier Milei, amigo de Trump. Mas o Projeto 2025, que fornece o roteiro para o segundo mandato de Trump, não disfarça o fato de que os EUA devem se retirar de ambas as instituições de Bretton Woods. Trump já assinou um decreto instruindo seu secretário de Estado e embaixador na ONU a revisar todas “organizações intergovernamentais internacionais” para determinar de quais os EUA devem se retirar.
O Banco e o FMI podem continuar cambaleando sem a participação dos EUA. Diferentemente do caso da USAID, o governo Trump não pode trocar as fechaduras ou desconectar os e-mails dos funcionários. Os seguranças de ambas as instituições não deixariam passar os acólitos recém-nascidos de Elon Musk.
Além disso, a contribuição financeira dos EUA ao Banco Mundial é pequena – apenas US$ 2,8 bilhões em 2024. O Banco se financia principalmente emitindo títulos respaldados pela fé plena e crédito de seus membros. Como no caso da guerra na Ucrânia, países europeus poderiam intensificar seus esforços. Suas garantias permitiriam que o Banco continuasse a captar recursos nos mercados internacionais de capitais.
Os compromissos financeiros dos EUA com o FMI, por meio de cotas e os Novos Acordos para Empréstimos, são mais significativos, representando cerca de um quinto dos recursos do Fundo. Novamente, outros países teriam que assumir a responsabilidade. Esses países poderiam incluir a China, pois a saída dos EUA presumivelmente permitiria a reforma das cotas e do sistema de votação no FMI, algo que a China busca há muito tempo e os EUA bloquearam repetidas vezes.
O principal prejudicado em cada caso seriam os próprios EUA. O país seria visto como negando assistência financeira crítica a nações em desenvolvimento caso se retirasse do Banco Mundial. No caso do FMI, os EUA perderiam um canal de influência construtiva sobre as políticas econômicas e financeiras de outros países. Menos soft power em todas as frentes.
Para o Fed, a situação é, no mínimo, mais grave. Já vemos os primeiros sinais de inflação renovada com as tarifas e cortes de impostos propostos por Trump. Em algum momento, Trump não poderá mais culpar o governo do ex-presidente Joe Biden pela inflação, então culpará o Fed. Suas políticas caóticas já começaram a minar a confiança do consumidor, criando risco de recessão. Quando essa recessão se materializar, Trump culpará o Fed por não reduzir as taxas de juros mais depressa.
O procurador-geral interino de Trump assegurou o poder do presidente sobre “uma série de agências independentes”. O presidente do Fed, Jay Powell, pode recorrer à Justiça se Trump tentar removê-lo sumariamente, assim como outros membros do conselho. Mas Trump não demonstra disposição de acatar decisões judiciais. Ele pode nomear um novo presidente do Fed que siga ordens da Casa Branca. Pode enviar os subordinados de Musk, apoiados por xerifes federais, para assumir os sistemas de computação do Fed. Dois meses atrás, esses cenários soariam absurdos. Agora, não mais.
Os mercados financeiros reagiriam de forma negativa e violenta. Aí sim descobriríamos, de uma vez por todas, se Trump se importa com a opinião deles.
Tradução por Fabrício Calado Moreira