GLAND – Há tempos o consumo de água doce da humanidade superou a taxa de reposição. Agora, pesquisadores vêm alertando que esse recurso natural essencial está se esgotando. Se queremos reverter esta tendência, investir em soluções naturais é nossa melhor chance.
Menos de 1% de toda a água da Terra é água fresca acessível ou potável. A maioria se encontra em pântanos em regiões do interior, incluindo rios, lagos, brejos, turfeiras e aquíferos subterrâneos. Essas zonas úmidas são as garis, faxineiras e banqueiras de água da natureza. Ao capturar, purificar, armazenar e liberar água de chuva e de cheias antes de liberá-la quando necessário, elas possibilitam o ciclo global da água, que garante uma oferta constante.
No mundo todo, a integração plena dos pantanais no planejamento e gestão de água em todos os setores econômicos traria benefícios de longo alcance. Suprimentos suficientes de água podem estimular o crescimento econômico, diminuir os conflitos e aliviar o estresse ambiental. Porém, isso exige um investimento contínuo e significativo para atender à demanda crescente.
O consumo de água doce aumentou seis vezes nos últimos 100 anos e a demanda continua a crescer, com agricultura, indústria e energia representando 90% do total da procura. Ao menos 55% mais água será necessária até 2050 para atender à demanda criada pelo crescimento econômico, urbanização e população global de quase dez bilhões de pessoas.
Hoje, já há consideravelmente menos água por pessoa do que o registrado meras duas décadas atrás. O resultado é que mais de três bilhões de pessoas passam por graves períodos de escassez de água, que muitas vezes desencadeiam conflitos violentos. Em 2050, mais da metade da população mundial sofrerá insegurança de água; nas áreas secas, a mudança climática agravará a escassez.
O aquecimento global é só uma das ameaças. A poluição também está piorando a crise da água. Água imprópria para beber é uma realidade potencialmente fatal para as pessoas em todo o mundo. Até certo ponto, todas as fontes de água doce agora estão virtualmente contaminadas; nem mesmo os picos nevados do Monte Everest foram poupados.
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Sendo assim, por que não estamos economizando e protegendo os pântanos? Sua versatilidade é especialmente relevante quando se considera que a crise da água está entre os cinco principais riscos globais do Fórum Econômico Mundial em termos de impacto. As capacidades de aproveitamento de água acima e abaixo do solo dos pântanos – neutralizando secas, inundações e o impacto do derretimento das geleiras – são particularmente importantes. No entanto, embora ofereçam a maior parte da nossa água doce, quase 90% de todos os brejos desapareceram desde a Revolução Industrial, e a perda vem ganhando velocidade em parceria com a globalização. Muitos dos pântanos restantes estão criticamente ameaçados.
Brejos são particularmente vulneráveis porque com frequência são vistos como áreas desérticas a serem convertidas para fins agrícolas e de desenvolvimento, ou áreas repletas de doença a serem revitalizadas. Essa tendência destaca a falta de compreensão do papel crítico dos pântanos que só agrava a crise mundial da água. Para garantir um suprimento de água potável, constante e adequado, temos de focar na relação entre a dependência humana da água e no que fazemos com nossos pântanos.
Sim, há outras opções para aumentar nosso abastecimento de água, mas nenhuma delas é ideal. A dessalinização da água do mar cria mais problemas do que resolve. Semear nuvens gera dúvidas preocupantes. E a construção em massa de usinas de captura de água requer investimento considerável e, em geral, tumultua economias e estilos de vida locais. Além disso, ao contrário dos brejos, essas opções não podem ao mesmo tempo fornecer comida, medicamentos e renda para uma de cada sete pessoas, um lar para inúmeras espécies ou amenizar as mudanças climáticas.
Com metade do PIB global dependente de serviços ecossistêmicos, salvar os pântanos deveria ser uma das principais prioridades na elaboração de uma recuperação verde da crise de covid-19. A revitalização que Chennai fez de antigos brejos da Índia para evitar outro “dia zero” – como aconteceu em 2019, quando a água da cidade acabou – serve de modelo para outros locais.
É importante repensar e reorganizar a agricultura, de longe o maior consumidor de água, para coletar mais “safra por pingo”. Estímulos à produção intensiva que ignorem pântanos, poluição da água e biodiversidade devem ser extintos o quanto antes. A nova iniciativa de gestão ambiental de terras do Reino Unido é um exemplo de programa que recompensa agricultores que se concentram na administração de água e conservação de pântanos como pilares da gestão de seus terrenos. Projetos semelhantes devem ser reproduzidos em escala mundial.
A indústria também precisa tomar a dianteira como parceira na conservação e uso eficiente. No passado, proteção do ecossistema e um ambiente de negócios atraente poderiam parecer incompatíveis. Hoje, a própria sobrevivência das empresas depende de um ambiente natural saudável. Reconhecendo isso, a Danone e outras empresas vêm assumindo compromissos com a gestão de água e proteção de bacias hidrográficas, ao mesmo tempo em que várias empresas do mundo estão se envolvendo em fundos de água multiparceiros para promover a gestão sustentável de pântanos e dar conta das necessidades causadas pela urbanização acelerada. Graças a este tipo de fundo de água, o rio Tana, em Náirobi, passou a gerar 27 milhões de litros extra de água por dia em apenas três anos.
Não é mais necessário convencer países com escassez de água, como a África do Sul. Mais da metade da população do país – e dois terços da economia – são mantidos por um pequeno grupo de brejos. Legisladores sabem que a proteção dos pântanos e sua integração na gestão da água são cruciais para garantir suprimentos seguros sobre os quais depende o desenvolvimento econômico.
Os pântanos são as melhores soluções do planeta para o problema existencial do fornecimento de água doce. Podemos ter água o bastante aqui na Terra sem precisar buscar fora dela. Tudo o que temos de fazer é proteger as soluções naturais que já temos e usá-las com sabedoria.
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In 2024, global geopolitics and national politics have undergone considerable upheaval, and the world economy has both significant weaknesses, including Europe and China, and notable bright spots, especially the US. In the coming year, the range of possible outcomes will broaden further.
offers his predictions for the new year while acknowledging that the range of possible outcomes is widening.
GLAND – Há tempos o consumo de água doce da humanidade superou a taxa de reposição. Agora, pesquisadores vêm alertando que esse recurso natural essencial está se esgotando. Se queremos reverter esta tendência, investir em soluções naturais é nossa melhor chance.
Menos de 1% de toda a água da Terra é água fresca acessível ou potável. A maioria se encontra em pântanos em regiões do interior, incluindo rios, lagos, brejos, turfeiras e aquíferos subterrâneos. Essas zonas úmidas são as garis, faxineiras e banqueiras de água da natureza. Ao capturar, purificar, armazenar e liberar água de chuva e de cheias antes de liberá-la quando necessário, elas possibilitam o ciclo global da água, que garante uma oferta constante.
No mundo todo, a integração plena dos pantanais no planejamento e gestão de água em todos os setores econômicos traria benefícios de longo alcance. Suprimentos suficientes de água podem estimular o crescimento econômico, diminuir os conflitos e aliviar o estresse ambiental. Porém, isso exige um investimento contínuo e significativo para atender à demanda crescente.
O consumo de água doce aumentou seis vezes nos últimos 100 anos e a demanda continua a crescer, com agricultura, indústria e energia representando 90% do total da procura. Ao menos 55% mais água será necessária até 2050 para atender à demanda criada pelo crescimento econômico, urbanização e população global de quase dez bilhões de pessoas.
Hoje, já há consideravelmente menos água por pessoa do que o registrado meras duas décadas atrás. O resultado é que mais de três bilhões de pessoas passam por graves períodos de escassez de água, que muitas vezes desencadeiam conflitos violentos. Em 2050, mais da metade da população mundial sofrerá insegurança de água; nas áreas secas, a mudança climática agravará a escassez.
O aquecimento global é só uma das ameaças. A poluição também está piorando a crise da água. Água imprópria para beber é uma realidade potencialmente fatal para as pessoas em todo o mundo. Até certo ponto, todas as fontes de água doce agora estão virtualmente contaminadas; nem mesmo os picos nevados do Monte Everest foram poupados.
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Brejos são particularmente vulneráveis porque com frequência são vistos como áreas desérticas a serem convertidas para fins agrícolas e de desenvolvimento, ou áreas repletas de doença a serem revitalizadas. Essa tendência destaca a falta de compreensão do papel crítico dos pântanos que só agrava a crise mundial da água. Para garantir um suprimento de água potável, constante e adequado, temos de focar na relação entre a dependência humana da água e no que fazemos com nossos pântanos.
Sim, há outras opções para aumentar nosso abastecimento de água, mas nenhuma delas é ideal. A dessalinização da água do mar cria mais problemas do que resolve. Semear nuvens gera dúvidas preocupantes. E a construção em massa de usinas de captura de água requer investimento considerável e, em geral, tumultua economias e estilos de vida locais. Além disso, ao contrário dos brejos, essas opções não podem ao mesmo tempo fornecer comida, medicamentos e renda para uma de cada sete pessoas, um lar para inúmeras espécies ou amenizar as mudanças climáticas.
Com metade do PIB global dependente de serviços ecossistêmicos, salvar os pântanos deveria ser uma das principais prioridades na elaboração de uma recuperação verde da crise de covid-19. A revitalização que Chennai fez de antigos brejos da Índia para evitar outro “dia zero” – como aconteceu em 2019, quando a água da cidade acabou – serve de modelo para outros locais.
É importante repensar e reorganizar a agricultura, de longe o maior consumidor de água, para coletar mais “safra por pingo”. Estímulos à produção intensiva que ignorem pântanos, poluição da água e biodiversidade devem ser extintos o quanto antes. A nova iniciativa de gestão ambiental de terras do Reino Unido é um exemplo de programa que recompensa agricultores que se concentram na administração de água e conservação de pântanos como pilares da gestão de seus terrenos. Projetos semelhantes devem ser reproduzidos em escala mundial.
A indústria também precisa tomar a dianteira como parceira na conservação e uso eficiente. No passado, proteção do ecossistema e um ambiente de negócios atraente poderiam parecer incompatíveis. Hoje, a própria sobrevivência das empresas depende de um ambiente natural saudável. Reconhecendo isso, a Danone e outras empresas vêm assumindo compromissos com a gestão de água e proteção de bacias hidrográficas, ao mesmo tempo em que várias empresas do mundo estão se envolvendo em fundos de água multiparceiros para promover a gestão sustentável de pântanos e dar conta das necessidades causadas pela urbanização acelerada. Graças a este tipo de fundo de água, o rio Tana, em Náirobi, passou a gerar 27 milhões de litros extra de água por dia em apenas três anos.
Não é mais necessário convencer países com escassez de água, como a África do Sul. Mais da metade da população do país – e dois terços da economia – são mantidos por um pequeno grupo de brejos. Legisladores sabem que a proteção dos pântanos e sua integração na gestão da água são cruciais para garantir suprimentos seguros sobre os quais depende o desenvolvimento econômico.
Os pântanos são as melhores soluções do planeta para o problema existencial do fornecimento de água doce. Podemos ter água o bastante aqui na Terra sem precisar buscar fora dela. Tudo o que temos de fazer é proteger as soluções naturais que já temos e usá-las com sabedoria.
Tradução por Fabrício Calado Moreira