PEQUIM – Enquanto a África do Sul se prepara para assumir a presidência rotativa do G20, o seu governo prometeu fazer de 2025 o “ano de África”. Ao mesmo tempo, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas no Brasil (COP30) servirá de teste decisivo para a ação climática global, revelando os progressos realizados pelos maiores poluidores do mundo no cumprimento dos seus compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e de financiamento climático aos países em desenvolvimento.
Tendo em conta que África representa apenas 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa e tem pouca responsabilidade histórica pelas alterações climáticas, é compreensível que o continente tenha estado relutante em adotar a agenda das zero emissões líquidas. Tal como a Comissão Económica das Nações Unidas para África observou no seu último Relatório sobre o Estado do Clima em África, o que os países africanos realmente precisam é de aumentar o investimento na adaptação e resiliência climática.
Mas parece que está a ocorrer uma mudança. À medida que as economias africanas recuperam da pandemia de COVID-19 e grandes quantidades de capital fluem para a mitigação do clima, muitos governantes estão a reconhecer o papel fundamental que o investimento poderá desempenhar para estimular uma enorme vaga de inovação tecnológica e crescimento verde em todo o continente.
A tecnologia verde pode ser um fator de mudança para África e desenvolvimentos recentes sugerem que este setor emergente pode ser a chave para ultrapassar os desafios de crescimento a longo prazo do continente. O aumento do investimento estrangeiro na produção de baterias em Marrocos e as conversações em curso entre o Grupo Hinduja da Índia e a empresa egípcia El Nasr Automotive para estabelecer uma fábrica de veículos elétricos no Egito apontam para um futuro em que África, com o seu abundante potencial de energias renováveis e recursos naturais subvalorizados, beneficia de um boom económico ecológico.
Um dos trunfos mais valiosos de África é a sua população jovem. Embora a percentagem de africanos subsarianos inscritos no ensino superior se tenha, de forma chocante, mantido baixa, abaixo dos 10% desde o início da década de 2000, o rápido crescimento da população do continente significa que o número absoluto de licenciados está a aumentar. Além disso, o ensino superior africano melhorou significativamente nas últimas duas décadas, com mais instituições a oferecer programas de elevada qualidade e a produção de investigação a continuar a aumentar.
Algumas destas melhorias tornaram-se particularmente evidentes durante a pandemia, uma vez que os investigadores e os profissionais de saúde se empenharam a atualizar a elaboração de políticas. A colaboração científica em todo o continente floresceu, com os Centros Africanos para o Controlo e Prevenção de Doenças a facilitar a troca de conhecimentos e experiências.
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De facto, pode argumentar-se que os epidemiologistas e economistas africanos colaboraram mais eficazmente durante a pandemia do que os seus homólogos na Europa. O Simpósio Económico Africano anual, organizado pelo Centro de Políticas para o Novo Sul (PCNS, na sigla em inglês) em Rabat, sublinha a crescente colaboração entre académicos e governantes, reunindo os principais investigadores e pensadores de todo o continente.
O simpósio deste ano, realizado em julho, centrou-se no declínio da ajuda pública ao desenvolvimento e do investimento do setor privado em África, em grande parte devido aos elevados níveis de dívida que dissuadiram os investidores e limitaram a capacidade de apoio dos bancos multilaterais de desenvolvimento e dos credores bilaterais. Embora o peso global da dívida de África não tenha aumentado drasticamente desde a COVID-19, os custos do serviço da dívida dispararam, obrigando muitos países a gastar mais no reembolso dos empréstimos do que na saúde e nos serviços sociais.
Perante este cenário, o Simpósio PCNS ofereceu uma réstia de esperança. Embora os países africanos necessitem urgentemente de financiamento para a adaptação às alterações climáticas, os fundos já atribuídos à atenuação podem ser alavancados para aceder a novas tecnologias verdes. Estes investimentos poderiam, por sua vez, permitir aos governos africanos ganhar uma posição firme nas cadeias de valor globais, como demonstrou a florescente indústria de baterias de Marrocos.
O enorme capital natural de África é outro trunfo importante. Uma avaliação correta destes recursos pode aumentar a riqueza de muitos países africanos e reduzir os seus custos com empréstimos. Entretanto, a monetização destas avaliações poderá ajudar os governos a reduzir os seus encargos com a dívida através de mecanismos como as trocas de dívida por natureza, através das quais os países se comprometem a proteger ativos naturais globalmente significativos em troca de alívio da dívida.
Felizmente, os bancos multilaterais de desenvolvimento estão a aumentar os seus investimentos em todo o continente. O Banco Africano de Desenvolvimento liderou várias iniciativas inovadoras, como o Africa Go Green Fund, e introduziu novas ferramentas para aumentar a sua capacidade de empréstimo. O Banco Mundial também aumentou os empréstimos, enquanto o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento – após uma década de sucesso no Norte de África – está finalmente a entrar nos mercados subsarianos. E o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas está a expandir constantemente a sua presença, concentrando-se em projetos relacionados com o clima e estabelecendo laços mais estreitos com os países africanos.
A presidência sul-africana do G20 representa uma oportunidade única para reunir a comunidade internacional em torno da transformação ecológica do continente. Com a União Africana como membro permanente do G20, o palco está montado para uma discussão que destaca o potencial de África para enfrentar os desafios globais e revitalizar a economia mundial.
No meio da turbulência regional e das crescentes tensões geopolíticas, África representa o derradeiro teste para saber se o sistema internacional de financiamento do desenvolvimento ainda pode funcionar eficazmente. Embora subsistam desafios significativos, o século africano continua ao nosso alcance.
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At the end of a year of domestic and international upheaval, Project Syndicate commentators share their favorite books from the past 12 months. Covering a wide array of genres and disciplines, this year’s picks provide fresh perspectives on the defining challenges of our time and how to confront them.
ask Project Syndicate contributors to select the books that resonated with them the most over the past year.
PEQUIM – Enquanto a África do Sul se prepara para assumir a presidência rotativa do G20, o seu governo prometeu fazer de 2025 o “ano de África”. Ao mesmo tempo, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas no Brasil (COP30) servirá de teste decisivo para a ação climática global, revelando os progressos realizados pelos maiores poluidores do mundo no cumprimento dos seus compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e de financiamento climático aos países em desenvolvimento.
Tendo em conta que África representa apenas 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa e tem pouca responsabilidade histórica pelas alterações climáticas, é compreensível que o continente tenha estado relutante em adotar a agenda das zero emissões líquidas. Tal como a Comissão Económica das Nações Unidas para África observou no seu último Relatório sobre o Estado do Clima em África, o que os países africanos realmente precisam é de aumentar o investimento na adaptação e resiliência climática.
Mas parece que está a ocorrer uma mudança. À medida que as economias africanas recuperam da pandemia de COVID-19 e grandes quantidades de capital fluem para a mitigação do clima, muitos governantes estão a reconhecer o papel fundamental que o investimento poderá desempenhar para estimular uma enorme vaga de inovação tecnológica e crescimento verde em todo o continente.
A tecnologia verde pode ser um fator de mudança para África e desenvolvimentos recentes sugerem que este setor emergente pode ser a chave para ultrapassar os desafios de crescimento a longo prazo do continente. O aumento do investimento estrangeiro na produção de baterias em Marrocos e as conversações em curso entre o Grupo Hinduja da Índia e a empresa egípcia El Nasr Automotive para estabelecer uma fábrica de veículos elétricos no Egito apontam para um futuro em que África, com o seu abundante potencial de energias renováveis e recursos naturais subvalorizados, beneficia de um boom económico ecológico.
Um dos trunfos mais valiosos de África é a sua população jovem. Embora a percentagem de africanos subsarianos inscritos no ensino superior se tenha, de forma chocante, mantido baixa, abaixo dos 10% desde o início da década de 2000, o rápido crescimento da população do continente significa que o número absoluto de licenciados está a aumentar. Além disso, o ensino superior africano melhorou significativamente nas últimas duas décadas, com mais instituições a oferecer programas de elevada qualidade e a produção de investigação a continuar a aumentar.
Algumas destas melhorias tornaram-se particularmente evidentes durante a pandemia, uma vez que os investigadores e os profissionais de saúde se empenharam a atualizar a elaboração de políticas. A colaboração científica em todo o continente floresceu, com os Centros Africanos para o Controlo e Prevenção de Doenças a facilitar a troca de conhecimentos e experiências.
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De facto, pode argumentar-se que os epidemiologistas e economistas africanos colaboraram mais eficazmente durante a pandemia do que os seus homólogos na Europa. O Simpósio Económico Africano anual, organizado pelo Centro de Políticas para o Novo Sul (PCNS, na sigla em inglês) em Rabat, sublinha a crescente colaboração entre académicos e governantes, reunindo os principais investigadores e pensadores de todo o continente.
O simpósio deste ano, realizado em julho, centrou-se no declínio da ajuda pública ao desenvolvimento e do investimento do setor privado em África, em grande parte devido aos elevados níveis de dívida que dissuadiram os investidores e limitaram a capacidade de apoio dos bancos multilaterais de desenvolvimento e dos credores bilaterais. Embora o peso global da dívida de África não tenha aumentado drasticamente desde a COVID-19, os custos do serviço da dívida dispararam, obrigando muitos países a gastar mais no reembolso dos empréstimos do que na saúde e nos serviços sociais.
Perante este cenário, o Simpósio PCNS ofereceu uma réstia de esperança. Embora os países africanos necessitem urgentemente de financiamento para a adaptação às alterações climáticas, os fundos já atribuídos à atenuação podem ser alavancados para aceder a novas tecnologias verdes. Estes investimentos poderiam, por sua vez, permitir aos governos africanos ganhar uma posição firme nas cadeias de valor globais, como demonstrou a florescente indústria de baterias de Marrocos.
O enorme capital natural de África é outro trunfo importante. Uma avaliação correta destes recursos pode aumentar a riqueza de muitos países africanos e reduzir os seus custos com empréstimos. Entretanto, a monetização destas avaliações poderá ajudar os governos a reduzir os seus encargos com a dívida através de mecanismos como as trocas de dívida por natureza, através das quais os países se comprometem a proteger ativos naturais globalmente significativos em troca de alívio da dívida.
Felizmente, os bancos multilaterais de desenvolvimento estão a aumentar os seus investimentos em todo o continente. O Banco Africano de Desenvolvimento liderou várias iniciativas inovadoras, como o Africa Go Green Fund, e introduziu novas ferramentas para aumentar a sua capacidade de empréstimo. O Banco Mundial também aumentou os empréstimos, enquanto o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento – após uma década de sucesso no Norte de África – está finalmente a entrar nos mercados subsarianos. E o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas está a expandir constantemente a sua presença, concentrando-se em projetos relacionados com o clima e estabelecendo laços mais estreitos com os países africanos.
A presidência sul-africana do G20 representa uma oportunidade única para reunir a comunidade internacional em torno da transformação ecológica do continente. Com a União Africana como membro permanente do G20, o palco está montado para uma discussão que destaca o potencial de África para enfrentar os desafios globais e revitalizar a economia mundial.
No meio da turbulência regional e das crescentes tensões geopolíticas, África representa o derradeiro teste para saber se o sistema internacional de financiamento do desenvolvimento ainda pode funcionar eficazmente. Embora subsistam desafios significativos, o século africano continua ao nosso alcance.