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Novas fronteiras para a análise do risco climático

LONDRES – Nos últimos anos, as temperaturas recorde e os fenómenos meteorológicos extremos salientaram o impacto esmagador das emissões de gases com efeito de estuga (GEE) sobre o clima global. Além disso, os custos destes eventos estão a aumentar. Por exemplo, cinco das piores catástrofes naturais da história dos EUA aconteceram desde 2005, causando prejuízos económicos que totalizam 523 mil milhões de dólares em termos ajustados pela inflação. E a América sofreu 22 catástrofes naturais importantes só no ano passado.

Mas a tradução dos resultados dos modelos de alterações climáticas em impactos específicos potenciais e a avaliação da relevância financeira dos riscos climáticos representam desafios tanto para as empresas como para os investidores. A rápida aceitação dos dados climáticos produzidos por modelos alimentou preocupações sobre a sua utilização indevida no contexto da tomada e da divulgação de decisões financeiras, e sobre distorções relevantes nas demostrações financeiras e a “lavagem verde” (NdT: “greenwashing”, no original; neologismo que descreve o aproveitamento indevido ou inadequado de virtudes ambientalistas). Estes riscos são especialmente problemáticos no caso dos investimentos de capital de longo prazo em infra-estruturas públicas, que têm frequentemente uma vida útil operacional de várias décadas.

A necessidade de informações climáticas por parte dos participantes no mercado financeiro é variável, tanto em termos do detalhe da avaliação (relativamente a activos específicos ou a classes de activos, a regiões e a indústrias) como dos horizontes temporais. Mas é difícil avaliar medidas para atenuar exposições ao clima sem dados específicos sobre o desempenho anterior das várias entidades. Isto pode incluir o modo como as empresas foram afectadas por acontecimentos históricos como cheias, o momento e a escala geográfica dos perigos e do seu impacto e a eficácia da sua adaptação.

Apesar de não existir uma solução universal para a determinação do preço dos riscos e oportunidades relacionados com o clima, alguns processos têm uma prioridade elevada. Por exemplo, a normalização pode ajudar a evitar os problemas de adaptação às alterações climáticas, ao assegurar a aplicação consistente de séries de dados e de nomenclaturas, além de reduzir a dependência dos resultados e das aproximações dos modelos climáticos. As informações normalizadas e geograficamente específicas com relevância para os riscos de crédito também permitiriam a realização de avaliações comparáveis dos riscos e oportunidades relacionados com o clima – e do seu impacto potencial.

Uma outra abordagem, a análise avançada de riscos climáticos, envolve a complementação dos resultados dos modelos climáticos com dados específicos às entidades, que incluam dados ao nível dos activos e informações financeiras. Uma visão clara dos activos de uma entidade facilita muito a compreensão do possível impacto financeiro dos efeitos físicos das alterações climáticas. Esta análise também pode facilitar o diálogo com os decisores para compreender a sua perspectiva sobre os riscos climáticos agudos e crónicos que enfrentam, e sobre o modo como os gerem, monitorizam e atenuam.

Por fim, a utilização de vários cenários climáticos permite que os decisores considerem uma gama mais alargada de resultados possíveis. Isto ajuda-os a desenvolver resiliência organizacional e a identificar riscos e oportunidades antes que estes surjam, o que por sua vez permite uma deliberação mais produtiva sobre as intervenções que possam ser necessárias.

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Apesar de as análises de riscos climáticos, o diálogo com entidades e os pareceres especializados serem todos meios de reforço da análise, a próxima geração de modelos climáticos precisará de ser mais sofisticada para explicar melhor as complexidades do aquecimento global. Os riscos climáticos não ocorrem isoladamente nem respeitam fronteiras sectoriais ou geográficas. E o avanço futuro das alterações climáticas poderá dar origem a novas e complexas interdependências e interacções que os fornecedores de dados não consigam resolver, devido à natureza compartimentada dos modelos existentes.

Os modelos de não-equilíbrio, que assumem relacionamentos mais complexos entre as variáveis climáticas, poderiam ser uma alternativa viável. De modo semelhante, os modelos de avaliação integrada oferecem a potencialidade de agrupar vários modelos de forma a compreender as cadeias de impactos que ligam os sistemas ambientais, socioeconómicos e climáticos. Os MAI também conseguem avaliar os efeitos dos esforços de redução de GEE e das acções adaptativas ao sistema climático e, por sua vez, avaliar a eficácia das estratégias associadas.

Mas os modelos de não-equilíbrio e os MAI não são uma panaceia. Por exemplo, os MAI não conseguem medir o prejuízo económico causado por eventos específicos, como tempestades violentas, ou calcular os custos associados à adaptação.

Além disso, estes modelos são normalmente calibrados para mudanças na temperatura média global. Isto limita a sua aplicabilidade relativamente a alterações em fenómenos extremos como tempestades e cheias repentinas, que constituem uma preocupação principal para muitos participantes do mercado financeiro, nomeadamente as seguradoras. Depois, os modelos como os MAI são intrinsecamente complexos, produzem muitos resultados e são de execução dispendiosa, o que significa que muitos dos desafios que se colocam à actual geração de modelos climáticos serão também e provavelmente apresentados à geração seguinte.

Não existe hoje uma solução perfeita para a avaliação dos efeitos financeiros das alterações climáticas físicas, mas isso não deveria ser uma justificação para a inacção. A análise avançada de riscos climáticos pode proporcionar uma ideia mais clara de como o aquecimento global será mau (ou dispendioso) para as empresas. Embora a tecnologia evolua no sentido de ajudar as empresas na avaliação dos riscos climáticos, os pareceres analíticos nunca foram tão necessários para interpretar resultados de modelos e permitir a tomada mais sustentada de decisões. Afinal, num campo em tão rápida mutação como a análise dos riscos climáticos, o passado apenas permite uma perspectiva estreita e de curto prazo sobre o futuro.

Uma tal abordagem também ajudaria a evitar consequências imprevistas e a utilização indevida de resultados de modelos climáticas por participantes do mercado financeiro com uma necessidade crescente de publicação das suas exposições aos riscos climáticos. As empresas e os investidores poderão depois preparar-se melhor para uma série de resultados futuros possíveis.

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