LONDRES –Uma das falsas perceções mais comuns entre os observadores das tendências digitais é que os consumidores nos países em desenvolvimento não beneficiam dos avanços da tecnologia. Seja para ter o smartphone mais recente ou para “contratar” robôs de limpeza, a capacidade de se aceder à inovação é uma das diferenças mais visíveis entre os países ricos e os pobres.
Mas embora a tecnologia possa agravar a desigualdade mundial, tem também o potencial de atenuá-la. Isso acontece porque a IA pode fazer muito mais do que potencializar dispositivos; também pode revolucionar a forma como os serviços de saúde, assistência em catástrofes, finanças, logística, educação e serviços comerciais são fornecidos no Sul Global.
Inovações como estas fazem com que que fiquemos mais próximos de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, em assuntos como a erradicação da pobreza, acabar com a desigualdade nos cuidados de saúde, aumentar o acesso à escolaridade e combater o aquecimento global. E, no entanto, o mundo está apenas a começar a constatar o que a IA pode fazer pelo progresso humano. Para aproveitar todo o poder da IA para fazer progredir o desenvolvimento, temos de encontrar novas formas de aplicá-lo.
Por exemplo, com o apoio adequado, os céus sobre os países em desenvolvimento poderiam encher-se com drones a distribuir produtos médicos em hospitais remotos. Isto já acontece nas zonas rurais do Ruanda, onde uma parceria inédita entre o ministério da saúde e a Zipline, uma empresa de tecnologia que está no arranque inicial, baseada em Silicon Valley, está a dar aos médicos que estão em clínicas de difícil acesso a possibilidade de pedirem sangue através de mensagens de texto e de esse pedido chegar de paraquedas num espaço de minutos. Desde que o programa foi lançado, em outubro de 2016, os tempos de entrega foram reduzidos em até cinco vezes e centenas de vidas foram salvas.
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Ainda assim, embora as inovações de IA como esta sejam impressionantes, não podemos tê-las como garantidas. A menos que combatamos os medos descabidos, mas bem publicitados, de que todos os transtornos da IA serão piores do que as recompensas, o incrível progresso que as empresas de tecnologia estão a fazer no Sul Global será travado.
Há uma série de passos que podem ser dados para se evitar este desfecho. Para começar, os programas como a campanha “AI for Good” das Nações Unidas, que tem como objetivo promover o diálogo sobre o uso benéfico da tecnologia para o trabalho humanitário, deve receber o total apoio dos governantes. Para aqueles que entre nós estão envolvidos no desenvolvimento da tecnologia também têm de continuar a identificar os projetos, as iniciativas, os grupos de reflexão e as organizações que beneficiariam da cooperação com empresas de IA –como a Zipline, no Ruanda.
Mas o mais importante é que as conversações sobre o desenvolvimento da IA para fins humanitários não podem ser realizadas de forma independente por organizações de saúde, instituições de caridade e governos. Quem investe na tecnologia também deve ter um lugar à mesa.
Durante muito tempo, os empreendedores tecnológicos focaram-se na solução de problemas no Norte Global, ao mesmo tempo que ignoravam os problemas tradicionalmente associados aos países em desenvolvimento. Mas a tecnologia móvel está a abrir novas portas de oportunidades e agora faz sentido, a nível humanitário e económico, direcionar as soluções de IA para outros países muito além dos ocidentais.
É por isso que estabeleci a Rewired, um veículo de investimento de cem milhões de dólares que apoia empresas de IA e de robótica embrionárias, que estejam envolvidas em enfrentar questões sociais importantes. A Rewired trabalha com empresas que estão na vanguarda da perceção de máquinas - a capacidade de os robôs entenderem e interpretarem o mundo físico. Investimos em empresas que estejam a trabalhar para reproduzir o olfato humano, desenvolver próteses acessíveis e hábeis, e criar máquinas portáteis projetadas para melhorar os processos de fabricação.
O nosso objetivo é financiar tecnologias com potencial para melhorarem a qualidade de vida em todos os países do mundo. E acredito que isso será a característica unificadora da IA. As máquinas que criamos hoje não serão apenas lucrativas; elas também aproximar-nos-ão da resolução de alguns dos maiores desafios do mundo.
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At the end of a year of domestic and international upheaval, Project Syndicate commentators share their favorite books from the past 12 months. Covering a wide array of genres and disciplines, this year’s picks provide fresh perspectives on the defining challenges of our time and how to confront them.
ask Project Syndicate contributors to select the books that resonated with them the most over the past year.
LONDRES –Uma das falsas perceções mais comuns entre os observadores das tendências digitais é que os consumidores nos países em desenvolvimento não beneficiam dos avanços da tecnologia. Seja para ter o smartphone mais recente ou para “contratar” robôs de limpeza, a capacidade de se aceder à inovação é uma das diferenças mais visíveis entre os países ricos e os pobres.
Este fosso tornou-se ainda mais pronunciado com a chegada da inteligência artificial (IA). Por exemplo, a imensa maioria dos assistentes pessoais “alto-falantes inteligentes” para lares, como a assistente Alexa da Amazon, é expedida para os países ricos. Em 2017, mais de 80% dos envios mundiais de alto-falantes inteligentes foram para a América do Norte.
Mas embora a tecnologia possa agravar a desigualdade mundial, tem também o potencial de atenuá-la. Isso acontece porque a IA pode fazer muito mais do que potencializar dispositivos; também pode revolucionar a forma como os serviços de saúde, assistência em catástrofes, finanças, logística, educação e serviços comerciais são fornecidos no Sul Global.
Em todo o mundo, a IA já está a transformar os países em desenvolvimento. No Nepal, a aprendizagem automática está a mapear e a analisar as necessidades de reconstrução após terramotos. Por toda a África, professores de IA estão a ajudar os jovens estudantes a ficar atualizados nos trabalhos. Agências de ajuda humanitária estão a utilizar análises de dados importantes para otimizarem a entrega de produtos aos refugiados que fogem de conflitos e de outras adversidades. E no meu país, Índia, os agricultores rurais utilizam aplicações de IA para melhorarem o rendimento das colheitas e aumentarem os lucros.
Inovações como estas fazem com que que fiquemos mais próximos de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, em assuntos como a erradicação da pobreza, acabar com a desigualdade nos cuidados de saúde, aumentar o acesso à escolaridade e combater o aquecimento global. E, no entanto, o mundo está apenas a começar a constatar o que a IA pode fazer pelo progresso humano. Para aproveitar todo o poder da IA para fazer progredir o desenvolvimento, temos de encontrar novas formas de aplicá-lo.
Por exemplo, com o apoio adequado, os céus sobre os países em desenvolvimento poderiam encher-se com drones a distribuir produtos médicos em hospitais remotos. Isto já acontece nas zonas rurais do Ruanda, onde uma parceria inédita entre o ministério da saúde e a Zipline, uma empresa de tecnologia que está no arranque inicial, baseada em Silicon Valley, está a dar aos médicos que estão em clínicas de difícil acesso a possibilidade de pedirem sangue através de mensagens de texto e de esse pedido chegar de paraquedas num espaço de minutos. Desde que o programa foi lançado, em outubro de 2016, os tempos de entrega foram reduzidos em até cinco vezes e centenas de vidas foram salvas.
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Ainda assim, embora as inovações de IA como esta sejam impressionantes, não podemos tê-las como garantidas. A menos que combatamos os medos descabidos, mas bem publicitados, de que todos os transtornos da IA serão piores do que as recompensas, o incrível progresso que as empresas de tecnologia estão a fazer no Sul Global será travado.
Há uma série de passos que podem ser dados para se evitar este desfecho. Para começar, os programas como a campanha “AI for Good” das Nações Unidas, que tem como objetivo promover o diálogo sobre o uso benéfico da tecnologia para o trabalho humanitário, deve receber o total apoio dos governantes. Para aqueles que entre nós estão envolvidos no desenvolvimento da tecnologia também têm de continuar a identificar os projetos, as iniciativas, os grupos de reflexão e as organizações que beneficiariam da cooperação com empresas de IA –como a Zipline, no Ruanda.
Mas o mais importante é que as conversações sobre o desenvolvimento da IA para fins humanitários não podem ser realizadas de forma independente por organizações de saúde, instituições de caridade e governos. Quem investe na tecnologia também deve ter um lugar à mesa.
Durante muito tempo, os empreendedores tecnológicos focaram-se na solução de problemas no Norte Global, ao mesmo tempo que ignoravam os problemas tradicionalmente associados aos países em desenvolvimento. Mas a tecnologia móvel está a abrir novas portas de oportunidades e agora faz sentido, a nível humanitário e económico, direcionar as soluções de IA para outros países muito além dos ocidentais.
É por isso que estabeleci a Rewired, um veículo de investimento de cem milhões de dólares que apoia empresas de IA e de robótica embrionárias, que estejam envolvidas em enfrentar questões sociais importantes. A Rewired trabalha com empresas que estão na vanguarda da perceção de máquinas - a capacidade de os robôs entenderem e interpretarem o mundo físico. Investimos em empresas que estejam a trabalhar para reproduzir o olfato humano, desenvolver próteses acessíveis e hábeis, e criar máquinas portáteis projetadas para melhorar os processos de fabricação.
O nosso objetivo é financiar tecnologias com potencial para melhorarem a qualidade de vida em todos os países do mundo. E acredito que isso será a característica unificadora da IA. As máquinas que criamos hoje não serão apenas lucrativas; elas também aproximar-nos-ão da resolução de alguns dos maiores desafios do mundo.