NOVA IORQUE – Deixem-me propor uma ideia radical: a ameaça mais crítica que os Estados Unidos enfrentam hoje e no futuro previsível não é uma China ascendente, uma Coreia do Norte imprudente, um Irão nuclear, o terrorismo moderno, ou as alterações climáticas. Apesar de todas estas serem ameaças potenciais ou actuais, os maiores desafios que os EUA enfrentam são a sua dívida em expansão, o desmoronamento das suas infra-estruturas, escolas primárias e secundárias de segunda categoria, um sistema de imigração desactualizado, e um crescimento económico lento – em resumo, os alicerces internos do poder Americano.
Os leitores de outros países podem sentir-se tentados a reagir a este julgamento com uma dose de gozo pela desgraça alheia (NdT: schadenfreude, em alemão no original), recolhendo mais do que uma pequena satisfação nas dificuldades Americanas. Tal resposta não devia surpreender. Os EUA e aqueles que os representam têm sido culpados de arrogância (NdT: hubris, em grego no original) (os EUA podem frequentemente ser a nação indispensável, mas seria melhor se outros o confirmassem), e exemplos de inconsistência entre as práticas da América e os seus princípios implicam compreensivelmente acusações de hipocrisia. Quando a América não adere aos princípios que prega aos outros, isso gera ressentimento.
Mas, como a maioria das tentações, o regozijo relativo às imperfeições e desafios da América deve ser contrariado. As pessoas à volta do globo deveriam ter cuidado com aquilo que desejam. O falhanço da América em lidar com os seus desafios internos arrastaria um preço elevado. De facto, o interesse do resto do mundo no sucesso Americano é quase tão grande como os próprios EUA.
Uma parte da razão é económica. A economia dos EUA ainda é responsável por cerca de um quarto da produção global. Se o crescimento dos EUA acelerar, a capacidade da América para consumir bens e serviços de outros países aumentará, impulsionando desse modo o crescimento à volta do mundo. Numa altura em que a Europa se encontra à deriva e a Ásia abranda, apenas os EUA (ou, em sentido mais lato, a América do Norte) têm o potencial para impulsionar a recuperação económica global.
Os EUA permanecem uma fonte única de inovação. A maioria dos cidadãos do mundo comunica com dispositivos móveis baseados em tecnologia desenvolvida em Silicon Valley; do mesmo modo, a Internet foi criada na América. Mais recentemente, novas tecnologias desenvolvidas nos EUA aumentaram grandemente a capacidade de se extrair petróleo e gás natural de formações subterrâneas. Esta tecnologia está agora a espalhar-se por todo o globo, permitindo que outras sociedades aumentem a sua produção de energia e diminuam simultaneamente a sua dependência relativamente a importações dispendiosas e as suas emissões de carbono.
Os EUA são também uma fonte inestimável de ideias. As suas universidades de classe mundial educam uma percentagem significativa dos futuros líderes mundiais. De modo mais importante, os EUA são desde há muito um exemplo claro do que podem conseguir as economias de mercado e as políticas democráticas. É muito mais provável que as pessoas e os governantes em todo o mundo se tornem mais abertos se o modelo Americano for apercebido como bem-sucedido.
At a time when democracy is under threat, there is an urgent need for incisive, informed analysis of the issues and questions driving the news – just what PS has always provided. Subscribe now and save $50 on a new subscription.
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Finalmente, o mundo enfrenta muitos desafios sérios, desde a necessidade de impedir o alastramento das armas de destruição maciça, de lutar contra as alterações climáticas, e de manter uma ordem económica mundial funcional que promova o comércio e o investimento até à regulação das práticas no ciberespaço, à melhoria da saúde global, e à prevenção de conflitos armados. Estes problemas não irão simplesmente desaparecer ou resolver-se por si próprios.
Embora a “mão invisível” de Adam Smith possa assegurar o sucesso do livre mercado, é impotente no mundo da geopolítica. A ordem requer a mão visível da liderança para formular e concretizar respostas globais para desafios globais.
Não me entendam mal: nada disto pretende sugerir que os EUA podem lidar sozinhos e eficazmente com os problemas do mundo. O unilateralismo raramente funciona. Não é apenas porque os EUA não tenham os meios necessários; a verdadeira natureza dos problemas globais contemporâneos sugere que apenas respostas colectivas tenham boas hipóteses de serem bem-sucedidas.
Mas é muito mais fácil defender o multilateralismo do que defini-lo e implementá-lo. Neste momento só existe um candidato para este papel: os EUA. Mais nenhum país tem a combinação necessária de capacidade e perspectiva.
Isto faz-me voltar ao argumento que os EUA devem pôr ordem na sua casa – do ponto de vista económico, físico, social, e político – se pretenderem ter os recursos necessários para promover a ordem no mundo. Todos deveriam desejar que assim fosse: a alternativa a um mundo liderado pelos EUA não é um mundo liderado pela China, Europa, Rússia, Japão, Índia, ou outro país qualquer, mas antes um mundo que não é de todo liderado. Um mundo assim seria quase certamente caracterizado por crise e conflito crónicos. Isso seria mau não apenas para os Americanos, mas para a vasta maioria dos habitantes do planeta.
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Recent developments that look like triumphs of religious fundamentalism represent not a return of religion in politics, but simply the return of the political as such. If they look foreign to Western eyes, that is because the West no longer stands for anything Westerners are willing to fight and die for.
thinks the prosperous West no longer understands what genuine political struggle looks like.
Readers seeking a self-critical analysis of the former German chancellor’s 16-year tenure will be disappointed by her long-awaited memoir, as she offers neither a mea culpa nor even an acknowledgment of her missteps. Still, the book provides a rare glimpse into the mind of a remarkable politician.
highlights how and why the former German chancellor’s legacy has soured in the three years since she left power.
NOVA IORQUE – Deixem-me propor uma ideia radical: a ameaça mais crítica que os Estados Unidos enfrentam hoje e no futuro previsível não é uma China ascendente, uma Coreia do Norte imprudente, um Irão nuclear, o terrorismo moderno, ou as alterações climáticas. Apesar de todas estas serem ameaças potenciais ou actuais, os maiores desafios que os EUA enfrentam são a sua dívida em expansão, o desmoronamento das suas infra-estruturas, escolas primárias e secundárias de segunda categoria, um sistema de imigração desactualizado, e um crescimento económico lento – em resumo, os alicerces internos do poder Americano.
Os leitores de outros países podem sentir-se tentados a reagir a este julgamento com uma dose de gozo pela desgraça alheia (NdT: schadenfreude, em alemão no original), recolhendo mais do que uma pequena satisfação nas dificuldades Americanas. Tal resposta não devia surpreender. Os EUA e aqueles que os representam têm sido culpados de arrogância (NdT: hubris, em grego no original) (os EUA podem frequentemente ser a nação indispensável, mas seria melhor se outros o confirmassem), e exemplos de inconsistência entre as práticas da América e os seus princípios implicam compreensivelmente acusações de hipocrisia. Quando a América não adere aos princípios que prega aos outros, isso gera ressentimento.
Mas, como a maioria das tentações, o regozijo relativo às imperfeições e desafios da América deve ser contrariado. As pessoas à volta do globo deveriam ter cuidado com aquilo que desejam. O falhanço da América em lidar com os seus desafios internos arrastaria um preço elevado. De facto, o interesse do resto do mundo no sucesso Americano é quase tão grande como os próprios EUA.
Uma parte da razão é económica. A economia dos EUA ainda é responsável por cerca de um quarto da produção global. Se o crescimento dos EUA acelerar, a capacidade da América para consumir bens e serviços de outros países aumentará, impulsionando desse modo o crescimento à volta do mundo. Numa altura em que a Europa se encontra à deriva e a Ásia abranda, apenas os EUA (ou, em sentido mais lato, a América do Norte) têm o potencial para impulsionar a recuperação económica global.
Os EUA permanecem uma fonte única de inovação. A maioria dos cidadãos do mundo comunica com dispositivos móveis baseados em tecnologia desenvolvida em Silicon Valley; do mesmo modo, a Internet foi criada na América. Mais recentemente, novas tecnologias desenvolvidas nos EUA aumentaram grandemente a capacidade de se extrair petróleo e gás natural de formações subterrâneas. Esta tecnologia está agora a espalhar-se por todo o globo, permitindo que outras sociedades aumentem a sua produção de energia e diminuam simultaneamente a sua dependência relativamente a importações dispendiosas e as suas emissões de carbono.
Os EUA são também uma fonte inestimável de ideias. As suas universidades de classe mundial educam uma percentagem significativa dos futuros líderes mundiais. De modo mais importante, os EUA são desde há muito um exemplo claro do que podem conseguir as economias de mercado e as políticas democráticas. É muito mais provável que as pessoas e os governantes em todo o mundo se tornem mais abertos se o modelo Americano for apercebido como bem-sucedido.
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Finalmente, o mundo enfrenta muitos desafios sérios, desde a necessidade de impedir o alastramento das armas de destruição maciça, de lutar contra as alterações climáticas, e de manter uma ordem económica mundial funcional que promova o comércio e o investimento até à regulação das práticas no ciberespaço, à melhoria da saúde global, e à prevenção de conflitos armados. Estes problemas não irão simplesmente desaparecer ou resolver-se por si próprios.
Embora a “mão invisível” de Adam Smith possa assegurar o sucesso do livre mercado, é impotente no mundo da geopolítica. A ordem requer a mão visível da liderança para formular e concretizar respostas globais para desafios globais.
Não me entendam mal: nada disto pretende sugerir que os EUA podem lidar sozinhos e eficazmente com os problemas do mundo. O unilateralismo raramente funciona. Não é apenas porque os EUA não tenham os meios necessários; a verdadeira natureza dos problemas globais contemporâneos sugere que apenas respostas colectivas tenham boas hipóteses de serem bem-sucedidas.
Mas é muito mais fácil defender o multilateralismo do que defini-lo e implementá-lo. Neste momento só existe um candidato para este papel: os EUA. Mais nenhum país tem a combinação necessária de capacidade e perspectiva.
Isto faz-me voltar ao argumento que os EUA devem pôr ordem na sua casa – do ponto de vista económico, físico, social, e político – se pretenderem ter os recursos necessários para promover a ordem no mundo. Todos deveriam desejar que assim fosse: a alternativa a um mundo liderado pelos EUA não é um mundo liderado pela China, Europa, Rússia, Japão, Índia, ou outro país qualquer, mas antes um mundo que não é de todo liderado. Um mundo assim seria quase certamente caracterizado por crise e conflito crónicos. Isso seria mau não apenas para os Americanos, mas para a vasta maioria dos habitantes do planeta.
Traduzido do inglês por António Chagas