health care rwanda William Campbell/Corbis via Getty Images

As chaves para a cobertura universal de cuidados de saúde

DAR-ES-SALAAM – Cumpriram-se três anos desde que os líderes mundiais se comprometeram com um dos objectivos mais ambiciosos alguma vez definidos para a saúde pública global: conseguir a cobertura universal de cuidados de saúde até 2030. Alcançar este objectivo significará que cada pessoa, em cada comunidade, terá acesso a cuidados acessíveis, tanto para evitar adoecer, como para o tratamento em caso de doença.

O que está em jogo é, simplesmente, demasiado importante para que esta promessa não seja cumprida. Não podemos erradicar a pobreza, nem proteger as pessoas das pandemias, nem promover a igualdade de género, nem alcançar qualquer um dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para 2030, se não acelerarmos o progresso no sentido da cobertura universal dos cuidados de saúde.

Felizmente, os líderes nacionais começam a tomar medidas concretas no sentido da expansão do acesso aos cuidados de saúde. Como eu, juntamente com muitos outros, acabei por compreender, o sucesso dependerá de começar por resolver um dos mais significativos desafios na saúde: as abordagens demasiado fragmentadas à prestação de cuidados de saúde. Em vez de tratarmos uma doença de cada vez, precisamos de implementar sistemas que tratem, lado a lado, as várias necessidades de saúde das pessoas. Cada mulher deveria poder dirigir-se a um prestador fiável na sua comunidade e receber serviços de planeamento familiar para si, vacinações de rotina para os seus filhos, ou tratamentos para a diabetes destinados a um familiar idoso.

O melhor modo para os países conseguirem uma abordagem mais integrada consiste em fortalecer os cuidados primários, que constituem, para a maioria das pessoas, o primeiro ponto de contacto com o sistema de saúde. Os prestadores de cuidados primários podem endereçar mais de 80% das necessidades de saúde. E como os cuidados primários são disponibilizados tanto aos ricos como aos pobres, formam o alicerce de uma sociedade justa e equitativa.

Reconhecendo estes benefícios potenciais, os líderes mundiais reuniram-se recentemente na Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários em Astana, no Cazaquistão, para subscreverem uma nova declaração, em que se comprometem a fortalecer os sistemas de cuidados primários nos seus respectivos países. Mas o trabalho duro só agora começa. Com os líderes nacionais a considerar a melhor maneira para honrarem o seu novo compromisso, eu salientaria dois factores que são essenciais para se conseguirem progressos.

Primeiro, precisamos de manter a vontade política de fortalecer os cuidados primários e de conseguir a cobertura universal dos cuidados de saúde. Para tal, o Director Geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, apelou recentemente aos chefes de estado e de governo para que empreendessem reformas concretas nesse sentido a partir do presente ano.

Introductory Offer: Save 30% on PS Digital
PS_Digital_1333x1000_Intro-Offer1

Introductory Offer: Save 30% on PS Digital

Access every new PS commentary, our entire On Point suite of subscriber-exclusive content – including Longer Reads, Insider Interviews, Big Picture/Big Question, and Say More – and the full PS archive.

Subscribe Now

Da minha experiência pessoal como antigo presidente da Tanzânia, sei que é necessária uma liderança persistente, firme e de alto nível para mover a complexa maquinaria governamental. Foi por isso que me juntei este ano à organização para a defesa da saúde Access Challenge, no lançamento da campanha “One by One: Target 2030”, que decorreu nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Como parte da campanha, reunir-me-ei com líderes por toda a África, para encorajá-los a tomarem medidas tangíveis no sentido do fortalecimento dos cuidados primários. O objectivo consiste em proteger o direito básico à saúde de cada criança, adolescente, mãe e família.

A segunda chave para o progresso consiste em informações melhoradas, para que possamos monitorizar aquilo que alcançámos, e o trabalho que ainda deve ser feito. São necessários dados fiáveis para determinar se as pessoas encontram obstáculos financeiros ou geográficos no acesso aos cuidados de saúde; se os cuidados estão a ser administrados de forma segura e eficaz; e se estão a chegar aos grupos sociais mais marginalizados.

Os líderes nacionais e os responsáveis pela saúde pública precisam de saber tudo isto, e mais ainda, para poderem identificar fraquezas no sistema de cuidados primários e definir áreas para melhoria. Os dados também são uma ferramenta importante para os defensores dos cuidados de saúde e para os cidadãos comuns que pretendam monitorizar o progresso ao longo do tempo, responsabilizar os seus líderes, e solicitar os cuidados de que necessitam e que merecem. Porém, muito frequentemente, e apesar do seu potencial para garantir melhorias e promover a responsabilização, a recolha de dados é apenas considerada a posteriori.

A Iniciativa para o Desempenho dos Cuidados de Saúde Primários está a trabalhar precisamente para resolver este assunto. Na Conferência Global sobre Cuidados de Saúde Primários, a IDCSP reuniu com vários países em todo o mundo para lançar uma nova ferramenta que ajude os legisladores e os prestadores a melhorarem os cuidados de saúde. Graças ao Vital Signs Profiles, estes conseguem aceder rapidamente a informações sobre cuidados primários que são simultaneamente úteis e fáceis de com

Agora que começarei a contactar todos os líderes africanos um a um, estou ansioso pelo dia em que consigamos atingir a cobertura universal de cuidados de saúde para os 7,7 mil milhões de pessoas no mundo. Com compromissos politicos de alto nível e novas ferramentas para a promoção do acesso aos cuidados de saúde e para estimular a responsabilização, estou confiante que conseguiremos tornar esta visão ambiciosa em realidade.

https://prosyn.org/atUTFVIpt