kitaw1_Per-Anders PetterssonGetty Images_africamining Per-Anders Pettersson/Getty Images

Aproveitar ao máximo os minerais verdes estratégicos de África

ADIS ABEBA – Com a transição global para tecnologias mais limpas em curso, África dispõe dos recursos naturais para se adiantar na corrida. O continente é um importante produtor das matérias-primas que alimentarão a revolução verde – incluindo, por exemplo, 70% do cobalto mundial, que é essencial para as baterias dos veículos eléctricos. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, África também dispõe das maiores reservas minerais ainda por explorar. Se forem aproveitados de forma sustentável e estratégica, estes recursos podem promover a industrialização verde e ampliar a electrificação, construindo ao mesmo tempo um futuro melhor para todos os africanos.

Actualmente, os países africanos estão principalmente envolvidos na exploração e extracção de minerais, e os poucos países com instalações de processamento produzem frequentemente produtos de baixo valor. Entretanto, os países exteriores a África debatem-se para desenvolver as suas próprias estratégias para minerais críticos. Num esforço para garantirem os recursos necessários ao crescimento económico sustentável e à defesa nacional, estão a visar as reservas de terras raras do continente.

Para assegurar que os países africanos garantem os maiores proveitos das indústrias extractivas e que os interesses estratégicos do continente não são preteridos, a União Africana criou o Centro Africano para o Desenvolvimento de Minerais (CADM). Além de garantir que a corrida global aos denominados minérios “críticos” se traduz num futuro próspero, a limitação dos danos ambientais está no topo da sua agenda, especialmente porque quase um quarto do PIB de África depende da natureza. O facto de o continente ser ameaçado pelas alterações climáticas também não ajuda.

Na esteira da Cimeira Africana sobre o Clima, que sublinhou a importância dos minerais verdes, os estados-membros da UA têm de ratificar os estatutos do CADM. Eventuais atrasos poderão acarretar grandes custos à gestão da riqueza mineral do continente.

A subsequente Estratégia Africana para os Minerais Verdes (EAMV) do CADM poderá guiar os países africanos quanto à forma como consideram explorar as suas matérias-primas – críticas para a transição energética – de uma forma estratégica e sustentável. No contexto africano, os minerais “verdes” são os usados na cadeia de aprovisionamento da indústria mineira, segundo os dois critérios principais da EAMV. Desenvolvida sobre quatro pilares – promoção do desenvolvimento mineral, investimento em capital humano e capacidade tecnológica, criação de cadeias de valor e promoção da protecção dos recursos – a EAMV proporciona um modelo para apoiar a indústria verde e implementar uma presença mais preponderante nas cadeias de aprovisionamento das tecnologias limpas.

É encorajador que indústrias verdes nascentes – nomeadamente, unidades industriais para montagem de veículos eléctricos – comecem a brotar em vários países africanos. Isto demostra que as capacidades técnicas e industriais do continente podem ser ampliadas com políticas de fomento, programas de desenvolvimento de competências, desenvolvimento de infra-estruturas e um clima favorável ao investimento. Os benefícios do desenvolvimento da indústria local e de transferir a produção para componentes de valor acrescentado são inúmeros: criação de empregos, reforço das capacidades tecnológicas e uma diminuição da dependência de importações que, no seu conjunto, fortalecem a soberania económica de África.

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O primeiro objectivo da EAMV consiste em acelerar a produção local dos suprimentos necessários à extracção e processamento dos minerais verdes estratégicos. O investimento em capacidades locais criará uma economia mais inclusiva: com a prosperidade das indústrias nacionais, as comunidades beneficiariam directamente com as oportunidades de emprego e o desenvolvimento de competências, que por sua vez contribuem para a prosperidade partilhada.

O objectivo seguinte será a construção de mais unidades de processamento no continente, que permitiria aos países africanos capturarem uma maior quota da cadeia de valor, diversificarem as suas economias e reduzirem a sua dependência das exportações de matérias-primas. Sem esta transição para uma produção com maior valor acrescentado, o continente debater-se-á para alcançar a resiliência económica num mercado global em permanente mutação.

Por último, a EAMV pretende expandir a competência técnica de África e aumentar os recursos para investigação, desenvolvimento e inovação. Este resultado fomentaria o crescimento de tecnologias verdes de última geração e posicionaria África como um centro para o progresso científico, atraindo talentos e investimentos de todo o mundo.

Evidentemente, a consecução destes objectivos requer uma abordagem coordenada, nomeadamente a definição de tarifas externas comuns sobre os suprimentos para a actividade extractiva, os minerais processados e os produtos manufacturados. Isto facilitaria o comércio e a colaboração entre países africanos, ao mesmo tempo que incentivaria práticas responsáveis do ponto de vista ambiental.

A procura global por baterias, veículos eléctricos e equipamentos para energias renováveis está em ascensão, e África pode reivindicar uma fatia maior dos lucros das tecnologias limpas. A contribuição para estas cadeias de valor também deverá melhorar o acesso dos países africanos a energia acessível e fiável e melhorar as opções de mobilidade no continente. Consequentemente, o modelo da EAMV poderá endereçar problemas que são exclusivos de África, como o seu défice energético e os seus desafios ao nível dos transportes, promovendo simultaneamente esforços globais mais amplos para combater as alterações climáticas.

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