NOVA DELHI – Na sua recente viagem à China, Bangladesh, e Índia, a Secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton estava ansiosa por apregoar a estratégia Americana da “Nova Rota da Seda”, que revelou em Setembro passado. Mas a Rota da Seda era uma rota comercial, ao passo que a viagem Asiática de Clinton foi dominada por diplomacia num fio de navalha.
Nada na viagem de Clinton foi tão pioneiro como a sua visita a Myanmar no início da primavera, onde se encontrou com a líder da oposição Aung San Suu Kyi e com o Presidente Thein Sein para lhes dar apoio na sua delicada dança política, que poderá ainda levar o país à cena democrática global. A sua viagem iniciou-se com o anual e sempre tenso Diálogo Estratégico e Económico EUA-China, ameaçado a princípio pela situação do invisual activista dos direitos humanos Chen Guangcheng, que procurara refúgio na embaixada dos Estados Unidos em Beijing.
Mas Chen não foi o único a suplantar Clinton; o seu patrão, o Presidente Barack Obama, fê-lo também, aterrando à meia-noite em Kabul, onde celebrou um pacto estratégico com o Afeganistão, voando de volta para os EUA antes da alvorada. Teria sido este – uma negociação sem a sua participação – o evento definidor da quinzena Asiática de Clinton?
O conselheiro de segurança nacional do Afeganistão, Rangin Dadfar Spanta, descreve o pacto como “fornecendo uma base forte à segurança do Afeganistão, (e) um documento para o desenvolvimento da região.” Mas enquanto o novo pacto clarifica a postura pós-2014 da América com respeito ao Afeganistão, e a um certo nível conseguiu acalmar as preocupações da Índia sobre o futuro dessa terra atribulada, a ansiedade no Paquistão só aumentou. Só o tempo dirá se o pacto irá promover a estabilidade na região.
Duas vezes suplantada, as discussões de Clinton com os líderes da China ocorreram à sombra não só do caso Chen, mas também da recente purga de Bo Xilai da liderança máxima do Partido Comunista. A expulsão de Bo, fonte do maior tumulto intra-Partido desde o massacre da Praça Tiananmen em Junho de 1989, é o tipo de roupa suja que os líderes da China nunca lavam em público. Então, em vez disso, “atiraram-se” à delegação dos EUA, nas palavras de um alto funcionário Americano, sobre o caso Chen.
Primeiro, quando Chen estava na embaixada dos EUA, os Chineses começaram por sugerir o cancelamento do Diálogo Estratégico e Económico, marcado para começar com a chegada de Clinton e do Secretário do Tesouro Timothy Geithner. Os Americanos também pareciam dispostos a partir. No fim, ambas as partes cederam: os Americanos aceitaram um acordo para que Chen deixasse a embaixada que não podia ser aplicado, e os Chineses acabaram por concordar autorizar Chen a estudar nos EUA, tal como fazem hoje muitos milhares de outros Chineses.
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A etapa Chinesa da viagem de Clinton pela Ásia foi salva – tanto assim que, no fim da sua estada em Beijing, permitiu-se um tipo de hipérbole diplomática que poucos esperariam três dias antes: “Os nossos países são completa e inevitavelmente interdependentes,” disse, adicionando que “uma China próspera é bom para a América...” Isso pode ser verdade ou não; mas ambos os países parecem ter chegado à conclusão que nenhuma disputa sobre direitos humanos merece sabotar toda a relação bilateral.
Depois, Clinton seguiu para o Bangladesh. Mas aqui a propensão Americana para o sermão gratuito originou tensão desnecessária nas suas conversações com o governo do Primeiro Ministro Sheikh Hasina. Desta vez, a questão era o tratamento que Hasina dava ao laureado com o Nobel Muhammad Yunus, pioneiro do microcrédito e fundador do Banco Grameen. Ao contrário dos irritadiços Chineses, o porta-voz de Hasina ofereceu apenas uma réplica ligeira, rejeitando as sugestões de Clinton sobre os alegados maus-tratos a Yunus.
De Dacca, Clinton fez a curta viagem até à Bengala Ocidental Indiana, onde o seu anfitrião foi o diminuto Ministro-Chefe Mamata Banerjee, cuja eleição terminou com 34 anos de governo Comunista no estado. Choveram garantias de investimento dos EUA no desenvolvimento de Bengala; falta ver se os fundos realmente chegarão.
Depois seguiu-se para a capital da Índia, Nova Delhi, para o que muitos consideraram ser a visita de despedida de Clinton (assumindo, isto é, que ela abandona o cargo no fim deste ano como planeado) – uma visita manchada por estranhas coincidências e por um planeamento deficiente. Mesmo enquanto Clinton advertia funcionários Indianos sobre contactos com o Irão (pedindo, em particular, uma redução nas importações de petróleo Iraniano), a Índia recebia uma missão comercial Iraniana de alto nível com o objectivo de impulsionar as relações económicas bilaterais.
Finalmente, Clinton, falando de Delhi, instou o Paquistão a não permitir que o seu território fosse usado como uma “rampa de lançamento” por grupos terroristas, afirmando que o líder da al-Qaeda Ayman al-Zawahiri se escondia no país. Fiéis a si mesmos, funcionários Paquistaneses sentiram-se ultrajados pela acusação, que refutaram prontamente com quase a mesma veemência com que uma vez negaram a presença de Osama Bin Laden. Os EUA responderam anunciando que continuarão os seus ataques não tripulados à região Paquistanesa do Waziristão do Norte.
Foi este o tão esperado sinal de que os EUA iriam pressionar o Paquistão na questão do terrorismo? Com os planos dos EUA para a retirada do Afeganistão completados por Obama no princípio da viagem de Clinton, podia pensar-se isso. Em qualquer caso, a viagem de Clinton parece confirmar o facto central da diplomacia dos EUA actualmente: a rotação Asiática está completa. A região é agora a principal prioridade da política externa Americana.
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Since Plato’s Republic 2,300 years ago, philosophers have understood the process by which demagogues come to power in free and fair elections, only to overthrow democracy and establish tyrannical rule. The process is straightforward, and we have now just watched it play out.
observes that philosophers since Plato have understood how tyrants come to power in free elections.
Despite being a criminal, a charlatan, and an aspiring dictator, Donald Trump has won not only the Electoral College, but also the popular vote – a feat he did not achieve in 2016 or 2020. A nihilistic voter base, profit-hungry business leaders, and craven Republican politicians are to blame.
points the finger at a nihilistic voter base, profit-hungry business leaders, and craven Republican politicians.
NOVA DELHI – Na sua recente viagem à China, Bangladesh, e Índia, a Secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton estava ansiosa por apregoar a estratégia Americana da “Nova Rota da Seda”, que revelou em Setembro passado. Mas a Rota da Seda era uma rota comercial, ao passo que a viagem Asiática de Clinton foi dominada por diplomacia num fio de navalha.
Nada na viagem de Clinton foi tão pioneiro como a sua visita a Myanmar no início da primavera, onde se encontrou com a líder da oposição Aung San Suu Kyi e com o Presidente Thein Sein para lhes dar apoio na sua delicada dança política, que poderá ainda levar o país à cena democrática global. A sua viagem iniciou-se com o anual e sempre tenso Diálogo Estratégico e Económico EUA-China, ameaçado a princípio pela situação do invisual activista dos direitos humanos Chen Guangcheng, que procurara refúgio na embaixada dos Estados Unidos em Beijing.
Mas Chen não foi o único a suplantar Clinton; o seu patrão, o Presidente Barack Obama, fê-lo também, aterrando à meia-noite em Kabul, onde celebrou um pacto estratégico com o Afeganistão, voando de volta para os EUA antes da alvorada. Teria sido este – uma negociação sem a sua participação – o evento definidor da quinzena Asiática de Clinton?
O conselheiro de segurança nacional do Afeganistão, Rangin Dadfar Spanta, descreve o pacto como “fornecendo uma base forte à segurança do Afeganistão, (e) um documento para o desenvolvimento da região.” Mas enquanto o novo pacto clarifica a postura pós-2014 da América com respeito ao Afeganistão, e a um certo nível conseguiu acalmar as preocupações da Índia sobre o futuro dessa terra atribulada, a ansiedade no Paquistão só aumentou. Só o tempo dirá se o pacto irá promover a estabilidade na região.
Duas vezes suplantada, as discussões de Clinton com os líderes da China ocorreram à sombra não só do caso Chen, mas também da recente purga de Bo Xilai da liderança máxima do Partido Comunista. A expulsão de Bo, fonte do maior tumulto intra-Partido desde o massacre da Praça Tiananmen em Junho de 1989, é o tipo de roupa suja que os líderes da China nunca lavam em público. Então, em vez disso, “atiraram-se” à delegação dos EUA, nas palavras de um alto funcionário Americano, sobre o caso Chen.
Primeiro, quando Chen estava na embaixada dos EUA, os Chineses começaram por sugerir o cancelamento do Diálogo Estratégico e Económico, marcado para começar com a chegada de Clinton e do Secretário do Tesouro Timothy Geithner. Os Americanos também pareciam dispostos a partir. No fim, ambas as partes cederam: os Americanos aceitaram um acordo para que Chen deixasse a embaixada que não podia ser aplicado, e os Chineses acabaram por concordar autorizar Chen a estudar nos EUA, tal como fazem hoje muitos milhares de outros Chineses.
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A etapa Chinesa da viagem de Clinton pela Ásia foi salva – tanto assim que, no fim da sua estada em Beijing, permitiu-se um tipo de hipérbole diplomática que poucos esperariam três dias antes: “Os nossos países são completa e inevitavelmente interdependentes,” disse, adicionando que “uma China próspera é bom para a América...” Isso pode ser verdade ou não; mas ambos os países parecem ter chegado à conclusão que nenhuma disputa sobre direitos humanos merece sabotar toda a relação bilateral.
Depois, Clinton seguiu para o Bangladesh. Mas aqui a propensão Americana para o sermão gratuito originou tensão desnecessária nas suas conversações com o governo do Primeiro Ministro Sheikh Hasina. Desta vez, a questão era o tratamento que Hasina dava ao laureado com o Nobel Muhammad Yunus, pioneiro do microcrédito e fundador do Banco Grameen. Ao contrário dos irritadiços Chineses, o porta-voz de Hasina ofereceu apenas uma réplica ligeira, rejeitando as sugestões de Clinton sobre os alegados maus-tratos a Yunus.
De Dacca, Clinton fez a curta viagem até à Bengala Ocidental Indiana, onde o seu anfitrião foi o diminuto Ministro-Chefe Mamata Banerjee, cuja eleição terminou com 34 anos de governo Comunista no estado. Choveram garantias de investimento dos EUA no desenvolvimento de Bengala; falta ver se os fundos realmente chegarão.
Depois seguiu-se para a capital da Índia, Nova Delhi, para o que muitos consideraram ser a visita de despedida de Clinton (assumindo, isto é, que ela abandona o cargo no fim deste ano como planeado) – uma visita manchada por estranhas coincidências e por um planeamento deficiente. Mesmo enquanto Clinton advertia funcionários Indianos sobre contactos com o Irão (pedindo, em particular, uma redução nas importações de petróleo Iraniano), a Índia recebia uma missão comercial Iraniana de alto nível com o objectivo de impulsionar as relações económicas bilaterais.
Finalmente, Clinton, falando de Delhi, instou o Paquistão a não permitir que o seu território fosse usado como uma “rampa de lançamento” por grupos terroristas, afirmando que o líder da al-Qaeda Ayman al-Zawahiri se escondia no país. Fiéis a si mesmos, funcionários Paquistaneses sentiram-se ultrajados pela acusação, que refutaram prontamente com quase a mesma veemência com que uma vez negaram a presença de Osama Bin Laden. Os EUA responderam anunciando que continuarão os seus ataques não tripulados à região Paquistanesa do Waziristão do Norte.
Foi este o tão esperado sinal de que os EUA iriam pressionar o Paquistão na questão do terrorismo? Com os planos dos EUA para a retirada do Afeganistão completados por Obama no princípio da viagem de Clinton, podia pensar-se isso. Em qualquer caso, a viagem de Clinton parece confirmar o facto central da diplomacia dos EUA actualmente: a rotação Asiática está completa. A região é agora a principal prioridade da política externa Americana.
Traduzido do Inglês por António Chagas