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O G20 tem de ajudar África a colmatar o défice de financiamento climático

NAIROBI – Num mundo que se encontra a braços com desafios climáticos sem precedentes, a atribuição de um lugar permanente no G20 à União Africana representa uma oportunidade determinante. Como o continente enfrenta inundações, secas e ondas de calor  cada vez mais frequentes e graves – sofrendo as consequências de uma crise que não criou – precisa urgentemente de apoio financeiro para escapar ao ciclo de dívidas e catástrofes que impede a resiliência climática e o desenvolvimento sustentável.

O caminho a seguir é claro: as economias ricas do G20 têm de ir além da retórica e fornecer financiamento climático sustentável a longo prazo e empréstimos concessionais para ajudar África a colmatar o atual défice de financiamento. À medida que os líderes do grupo se vão reunindo no Rio de Janeiro para a cimeira do G20, a 18 e 19 de novembro, o mundo – e principalmente os países africanos – estará a observar atentamente.

O assento de África no G20 já era aguardado há muito tempo, refletindo tanto a sua importância crescente como a gravidade das crises que enfrenta. Mas a representação por si só não é suficiente. A inclusão de África tem de conduzir a um apoio real e a benefícios tangíveis para as comunidades locais que se debatem com desafios económicos, ambientais e energéticos.

Durante demasiado tempo, África foi relegada para a periferia da economia mundial. Agora que está representada no G20, as maiores economias do mundo têm a responsabilidade de desmantelar as estruturas enraizadas que mantêm o continente e outras regiões em desenvolvimento empobrecidos.

O setor da energia é um excelente exemplo. Apesar de décadas de promessas dos líderes políticos, os combustíveis fósseis não conseguiram fornecer eletricidade a vastas áreas do continente. Com 600 milhões de africanosainda a viver sem eletricidade, a “transição” energética de África é menos uma questão de passar das energias poluentes para as energias limpas e mais uma questão de passar da ausência de energia para fontes sustentáveis.

O que está em jogo não podia ser mais importante. O futuro crescimento e prosperidade de África depende da sua capacidade de proporcionar um acesso universal, económico e fiável à energia. Felizmente, o continente possui abundantes recursos de energias renováveis e os peritos estimam que a energia solar será a fonte de eletricidade mais barata do continente até 2030.

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O complexo solar de Noor Ouarzazate, em Marrocos, o maior parque solar do mundo, demonstra o que os países africanos podem alcançar com financiamento e apoio adequados. Do mesmo modo, projetos como as centrais geotérmicas de Olkaria, no Quénia, financiadas pelo governo japonês, e os parques eólicos de Adama, na Etiópia, apoiados por empréstimos concessionais chineses, mostram que os objetivos energéticos de África são perfeitamente alcançáveis.

Mas para desbloquear o seu vasto potencial em matéria de energias renováveis, África precisa de um investimento financeiro substancial e de apoio técnico. Para o efeito, o desenvolvimento do continente tem de estar no centro do esforço global para triplicar a produção de energias renováveis até 2030. Criar oportunidades económicas significativas para os africanos exige que esses esforços sejam fundamentados em estruturas seguras e autossustentáveis, que sirvam as necessidades das comunidades locais, em vez de perpetuar o modelo explorador de extração de recursos que tem caracterizado os combustíveis fósseis.

Com o aumento da capacidade energética, África pode fomentar indústrias que produzam bens ecológicos e de valor acrescentado, reduzindo a dependência do continente das exportações de matérias-primas. No entanto, para o conseguir, é necessário mais do que segurança energética; é preciso haver reformas abrangentes dos sistemas de comércio mundial que asfixiam o crescimento económico nos países em desenvolvimento e prejudicam a sua competitividade. O apoio do G20 é fundamental para alcançar esta transformação.

Chegou o momento de transformar as promessas em ações concretas. As conferências anuais das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP), há muito caracterizadas por uma grandiosa retórica, não podem continuar a servir de fóruns para gestos simbólicos. Os países do G20 têm urgentemente de assumir e honrar o compromisso proposto de fornecer aos países em desenvolvimento um bilião de dólares por ano em financiamento climático a longo prazo e baseado em subvenções.

Este valor não é um número arbitrário; para as economias menos desenvolvidas do mundo, é a diferença entre a estagnação e um progresso genuíno. A cimeira do G20 no Brasil – que coincide com a COP29 no Azerbaijão – pode ajudar a garantir os fundos necessários, criando mecanismos de financiamento fiáveis e inovadores, desde impostos sobre os ultrarricos até taxas sobre bilhetes de avião, transações financeiras e produção de combustíveis fósseis.

À medida que a crise climática se intensifica, o sistema financeiro global tem de evoluir para apoiar os mais afetados pelos seus efeitos devastadores. Para tornar o financiamento do desenvolvimento mais acessível e equitativo, o G20 tem de avançar com reformas vitais, tais como disponibilizar mais capital aos bancos multilaterais de desenvolvimento e simplificar os processos burocráticos morosos.

No início deste ano, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, um defensor incondicional do Sul Global, discursou na cimeira da União Africana em Adis Abeba e comprometeu-se a utilizar a presidência brasileira do G20 para defender os interesses de África. Este ato de solidariedade preparou o terreno para a cimeira do G20, onde os líderes têm de abordar a necessidade urgente de financiamento climático. Para os países africanos, estes fundos são mais do que uma simples ajuda financeira; representam a esperança de uma mudança significativa, de resiliência económica e de desenvolvimento sustentável num mundo marcado pelo agravamento das desigualdades, pela fragilidade ambiental e por crises sociais.

África, Brasil e o Sul Global em geral têm de impulsionar a sua influência no G20 para oferecer novas perspetivas e estratégias práticas que consigam enfrentar as atuais crises globais. Juntos, estes países podem desempenhar um papel de liderança na luta contra as alterações climáticas, promovendo políticas e parcerias destinadas a garantir um futuro sustentável.

A adesão da União Africana ao G20 é um marco histórico. Mas o seu verdadeiro significado dependerá do quão eficazmente utilizará o seu assento para criar um futuro onde os países africanos não apenas se adaptam às crises, mas também as superam, moldando a agenda climática global ao lado dos seus homólogos mais ricos.

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