CAMBRIDGE – As previsões sobre 2025 vêm acompanhadas de advertências intermitentes: ninguém pode saber o que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, fará, muito menos como o resto do mundo reagirá. Mas pode-se especular. Imagine que estamos em janeiro de 2026.
Com o início de 2025, o humor da comunidade empresarial americana mudou. Alguns empresários há muito tempo tinham dúvidas particulares sobre a campanha antiglobalização de Trump. Mas a confiança geral começou a cair quando se depararam com as possíveis consequências de cortar a economia dos EUA do comércio internacional e da migração: preços muito mais altos de produtos importados e escassez de mão de obra em alguns setores.
A ansiedade do público se multiplicou quando misteriosos ataques cibernéticos causaram uma série de falhas que afetaram a infraestrutura de energia e os sistemas de água e saneamento dos EUA. Algumas doenças infantis, como o sarampo, voltaram. Desde o dia da posse, as mídias sociais hesitaram em destacar os esforços dos profissionais de saúde pública e de tecnologia da informação para corrigir a desinformação que os acompanhava.
O mais dramático no primeiro semestre de 2025 foi a correção no mercado de ações dos EUA, com queda de cerca de 35% no índice S&P 500. Sem dúvida, o mercado estava precisando de uma correção. O S&P 500 havia aumentado sete vezes entre janeiro de 2009 e a eleição de 2024, impulsionado por um crescimento mais forte do que o esperado na produção e no emprego dos EUA em 2021-24. No final do mandato do Presidente Joe Biden, as ações haviam entrado em território de bolha. Se avaliados em relação a lucros, dividendos, valor de reposição do estoque de capital ou PIB, os preços das ações atingiram níveis que lembram os de 1929 e outros episódios pré-crash.
Mas foi preciso uma agulha para furar a bolha. Tendo conquistado a maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, os republicanos também ganharam a responsabilidade de elaborar um orçamento federal. Mas eles estavam divididos: embora concordassem que os Estados Unidos estavam num caminho fiscal insustentável, não chegavam a um acordo sobre a solução. Uma facção defendia redução de impostos como a chave para a virtude fiscal (descartando a “visão dos especialistas” de que isso pioraria o equilíbrio orçamentário em vez de melhorá-lo), e a outra, estimulada por Elon Musk, enfatizava os cortes de gastos. (O muito alardeado Departamento de Eficiência Governamental (Department of Government Efficiency - DOGE, na sigla em inglês) - chefiado por Musk e pelo ex-candidato republicano à presidência Vivek Ramaswamy - teve pouco impacto em 2025).
As negociações orçamentárias retrocederam até chegar a um familiar jogo de quem pisca primeiro. Quando nenhum dos lados recuou, os EUA enfrentaram uma colisão ardente, na forma de uma paralisação do governo que durou um mês e rebaixamentos de crédito pelas três principais agências de classificação, o que, por sua vez, derrubou os mercados de ações e títulos.
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Com o fim ano, alguns observadores argumentaram que os EUA estão em recessão. De qualquer forma, o aumento da inflação - alimentado pelas tarifas de Trump e seus ataques à independência do Federal Reserve dos EUA - é um prenúncio do retorno da estagflação no estilo dos anos 1970.
Ao mesmo tempo, houve uma divergência grande entre o que os apoiadores e oponentes de Trump esperavam e o que obtiveram em 2025. No fim das contas, a comunidade empresarial inesperadamente o convenceu a aumentar o limite do número de vistos H-1B (para trabalhadores altamente qualificados) e a expandir outros canais de imigração legal. Trump também se contradisse sobre o TikTok. Ele fez grandes mudanças em seu gabinete, demitindo o Secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert Kennedy Jr., que buscava regulamentações mais rígidas para as empresas farmacêuticas.
Além da economia, Trump tomou outras medidas inesperadas. Sua reviravolta mais surpreendente foi seu apoio aos Estados que garantem o direito das mulheres ao aborto. Ele insistiu que sempre acreditou que a questão deveria ser decidida em nível estadual.
Em termos de política externa, um grande choque foi a primeira incursão armada dos EUA no México em mais de um século.
Antes disso, Trump retirou o apoio à Ucrânia, como esperado, na prática rendendo-se à Rússia e, com isso, minando fatalmente a credibilidade dos EUA aos olhos dos adversários em potencial, principalmente do próprio presidente russo Vladimir Putin. As tropas russas se deslocaram para partes da Geórgia e apareceram de forma ameaçadora ao longo de sua fronteira de 1.500 milhas com a OTAN, amarrando seus colegas ocidentais ao longo do ano.
Com os EUA distraídos e um novo precedente estabelecido em relação ao respeito - ou à falta dele - pelas fronteiras nacionais, a Venezuela invadiu a Guiana, a Etiópia invadiu a Somália e a Indonésia invadiu o Timor Leste. Livre do Plano de Ação Integral Conjunto de 2015, do qual Trump se retirou em 2018, e enfraquecido pela dizimação de seus representantes em Gaza, no Líbano e na Síria, o regime iraniano concluiu o desenvolvimento de armas nucleares.
O mais alarmante, no entanto, foram as ações navais da China, seja uma reação à sua desaceleração econômica, que as tarifas de Trump exacerbaram, ou um esforço para explorar a atual fraqueza dos Estados Unidos. Durante todo o ano, as forças chinesas estiveram ativas nas águas ao redor de Taiwan e nas ilhas recém-fortificadas que o país reivindica no Mar do Sul da China. Com a reputação de durão de Trump em xeque, ele surpreendeu a todos quando respondeu a uma colisão de navios, na qual vários marinheiros americanos morreram, enviando uma força naval conjunta dos EUA e das Filipinas para retomar Scarborough Shoal e as Ilhas Spratly. Em um padrão conhecido da história moderna, o governo Trump levou a cabo uma ameaça de intervenção militar que não havia sinalizado com antecedência.
No fim do ano, a guarda costeira da China parecia estar instalando uma “quarentena” em Taiwan. Trump agora enviou todas as forças navais que os EUA podem dispensar para romper o bloqueio, se necessário. Com o início de 2026, os temores de uma guerra quente entre as duas superpotências nucleares parecem muito reais.
Ao longo de 2025, os oponentes de Trump se consolaram com pensamentos de um lado positivo: seus compatriotas americanos enfim veriam as consequências de ter um presidente assim. Em pouco tempo, sua influência despencaria, tanto no Congresso quanto entre o eleitorado, à medida que ele passasse mais tempo jogando golfe em Mar-a-Lago.
Não tiveram essa sorte. Como de costume, Trump atribui a culpa das perturbações e dos desastres de 2025 a qualquer pessoa ou coisa que não seja ele mesmo. Do mesmo modo, seus apoiadores não veem os acontecimentos adversos de 2025 como culpa dele. Por que deveriam, se nunca o fizeram antes? É verdade que os partidários de Trump não conseguem extrair as lições apropriadas da história. Mas, ao prever que eles o farão, seus oponentes também estão ignorando a história.
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In betting that the economic fallout from his sweeping new tariffs will be worth the gains in border security, US President Donald Trump is gambling with America’s long-term influence and prosperity. In the future, more countries will have even stronger reasons to try to reduce their reliance on the United States.
thinks Donald Trump's trade policies will undermine the very goals they aim to achieve.
While America’s AI industry arguably needed shaking up, the news of a Chinese startup beating Big Tech at its own game raises some difficult questions. Fortunately, if US tech leaders and policymakers can take the right lessons from DeepSeek's success, we could all end up better for it.
considers what an apparent Chinese breakthrough means for the US tech industry, and innovation more broadly.
CAMBRIDGE – As previsões sobre 2025 vêm acompanhadas de advertências intermitentes: ninguém pode saber o que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, fará, muito menos como o resto do mundo reagirá. Mas pode-se especular. Imagine que estamos em janeiro de 2026.
Com o início de 2025, o humor da comunidade empresarial americana mudou. Alguns empresários há muito tempo tinham dúvidas particulares sobre a campanha antiglobalização de Trump. Mas a confiança geral começou a cair quando se depararam com as possíveis consequências de cortar a economia dos EUA do comércio internacional e da migração: preços muito mais altos de produtos importados e escassez de mão de obra em alguns setores.
A ansiedade do público se multiplicou quando misteriosos ataques cibernéticos causaram uma série de falhas que afetaram a infraestrutura de energia e os sistemas de água e saneamento dos EUA. Algumas doenças infantis, como o sarampo, voltaram. Desde o dia da posse, as mídias sociais hesitaram em destacar os esforços dos profissionais de saúde pública e de tecnologia da informação para corrigir a desinformação que os acompanhava.
O mais dramático no primeiro semestre de 2025 foi a correção no mercado de ações dos EUA, com queda de cerca de 35% no índice S&P 500. Sem dúvida, o mercado estava precisando de uma correção. O S&P 500 havia aumentado sete vezes entre janeiro de 2009 e a eleição de 2024, impulsionado por um crescimento mais forte do que o esperado na produção e no emprego dos EUA em 2021-24. No final do mandato do Presidente Joe Biden, as ações haviam entrado em território de bolha. Se avaliados em relação a lucros, dividendos, valor de reposição do estoque de capital ou PIB, os preços das ações atingiram níveis que lembram os de 1929 e outros episódios pré-crash.
Mas foi preciso uma agulha para furar a bolha. Tendo conquistado a maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, os republicanos também ganharam a responsabilidade de elaborar um orçamento federal. Mas eles estavam divididos: embora concordassem que os Estados Unidos estavam num caminho fiscal insustentável, não chegavam a um acordo sobre a solução. Uma facção defendia redução de impostos como a chave para a virtude fiscal (descartando a “visão dos especialistas” de que isso pioraria o equilíbrio orçamentário em vez de melhorá-lo), e a outra, estimulada por Elon Musk, enfatizava os cortes de gastos. (O muito alardeado Departamento de Eficiência Governamental (Department of Government Efficiency - DOGE, na sigla em inglês) - chefiado por Musk e pelo ex-candidato republicano à presidência Vivek Ramaswamy - teve pouco impacto em 2025).
As negociações orçamentárias retrocederam até chegar a um familiar jogo de quem pisca primeiro. Quando nenhum dos lados recuou, os EUA enfrentaram uma colisão ardente, na forma de uma paralisação do governo que durou um mês e rebaixamentos de crédito pelas três principais agências de classificação, o que, por sua vez, derrubou os mercados de ações e títulos.
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Com o fim ano, alguns observadores argumentaram que os EUA estão em recessão. De qualquer forma, o aumento da inflação - alimentado pelas tarifas de Trump e seus ataques à independência do Federal Reserve dos EUA - é um prenúncio do retorno da estagflação no estilo dos anos 1970.
Ao mesmo tempo, houve uma divergência grande entre o que os apoiadores e oponentes de Trump esperavam e o que obtiveram em 2025. No fim das contas, a comunidade empresarial inesperadamente o convenceu a aumentar o limite do número de vistos H-1B (para trabalhadores altamente qualificados) e a expandir outros canais de imigração legal. Trump também se contradisse sobre o TikTok. Ele fez grandes mudanças em seu gabinete, demitindo o Secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert Kennedy Jr., que buscava regulamentações mais rígidas para as empresas farmacêuticas.
Além da economia, Trump tomou outras medidas inesperadas. Sua reviravolta mais surpreendente foi seu apoio aos Estados que garantem o direito das mulheres ao aborto. Ele insistiu que sempre acreditou que a questão deveria ser decidida em nível estadual.
Em termos de política externa, um grande choque foi a primeira incursão armada dos EUA no México em mais de um século.
Antes disso, Trump retirou o apoio à Ucrânia, como esperado, na prática rendendo-se à Rússia e, com isso, minando fatalmente a credibilidade dos EUA aos olhos dos adversários em potencial, principalmente do próprio presidente russo Vladimir Putin. As tropas russas se deslocaram para partes da Geórgia e apareceram de forma ameaçadora ao longo de sua fronteira de 1.500 milhas com a OTAN, amarrando seus colegas ocidentais ao longo do ano.
Com os EUA distraídos e um novo precedente estabelecido em relação ao respeito - ou à falta dele - pelas fronteiras nacionais, a Venezuela invadiu a Guiana, a Etiópia invadiu a Somália e a Indonésia invadiu o Timor Leste. Livre do Plano de Ação Integral Conjunto de 2015, do qual Trump se retirou em 2018, e enfraquecido pela dizimação de seus representantes em Gaza, no Líbano e na Síria, o regime iraniano concluiu o desenvolvimento de armas nucleares.
O mais alarmante, no entanto, foram as ações navais da China, seja uma reação à sua desaceleração econômica, que as tarifas de Trump exacerbaram, ou um esforço para explorar a atual fraqueza dos Estados Unidos. Durante todo o ano, as forças chinesas estiveram ativas nas águas ao redor de Taiwan e nas ilhas recém-fortificadas que o país reivindica no Mar do Sul da China. Com a reputação de durão de Trump em xeque, ele surpreendeu a todos quando respondeu a uma colisão de navios, na qual vários marinheiros americanos morreram, enviando uma força naval conjunta dos EUA e das Filipinas para retomar Scarborough Shoal e as Ilhas Spratly. Em um padrão conhecido da história moderna, o governo Trump levou a cabo uma ameaça de intervenção militar que não havia sinalizado com antecedência.
No fim do ano, a guarda costeira da China parecia estar instalando uma “quarentena” em Taiwan. Trump agora enviou todas as forças navais que os EUA podem dispensar para romper o bloqueio, se necessário. Com o início de 2026, os temores de uma guerra quente entre as duas superpotências nucleares parecem muito reais.
Ao longo de 2025, os oponentes de Trump se consolaram com pensamentos de um lado positivo: seus compatriotas americanos enfim veriam as consequências de ter um presidente assim. Em pouco tempo, sua influência despencaria, tanto no Congresso quanto entre o eleitorado, à medida que ele passasse mais tempo jogando golfe em Mar-a-Lago.
Não tiveram essa sorte. Como de costume, Trump atribui a culpa das perturbações e dos desastres de 2025 a qualquer pessoa ou coisa que não seja ele mesmo. Do mesmo modo, seus apoiadores não veem os acontecimentos adversos de 2025 como culpa dele. Por que deveriam, se nunca o fizeram antes? É verdade que os partidários de Trump não conseguem extrair as lições apropriadas da história. Mas, ao prever que eles o farão, seus oponentes também estão ignorando a história.
Tradução por Fabrício Calado Moreira