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A economia americana está em alta, então, por que Biden está em baixa?

BERKELEY – O presidente dos EUA, Joe Biden, e sua equipe recebem pouco crédito por sua condução da economia americana. Ciente de que a eleição presidencial de 2024, como a maioria, focará em condições econômicas, ou percepções de condições econômicas, o presidente se apressou a vender o próprio peixe, repetindo seu mantra de que “a Bidenomics está funcionando.  Porém, embora a Bideomics possa estar funcionando, a mensagem não está. Uma pesquisa CBS/YouGov realizada entre 26 e 28 de julho deu a Biden um índice de meros 34% de aprovação na economia.

A explicação para essa impressão negativa é simples: inflação. Com razão, as pessoas percebem a inflação como um imposto sobre sua renda. Quando o desemprego está baixo e elas têm sucesso em conseguir emprego, atribuem sua boa sorte a seu empenho e iniciativa individual, e não à gestão da economia feita pelo governo. Contudo, quando se veem diante de preços mais caros no mercado ou no posto de gasolina, elas veem isso – não sem motivo – como culpa de outra pessoa.

A pergunta, claro, é que pessoa. E essa pergunta é complicada pelo fato de que o surto recente de inflação da América teve causas múltiplas. Isso não tira o problema das costas do governo Biden. O Plano de Resgate Americano, o pacote de incentivo de US$ 1,9 trilhão anunciado em 20 de janeiro de 2021, primeiro dia do presidente no cargo, ofereceu apoio vigoroso aos gastos.

Olhando agora, pode-se dizer: vigoroso demais. Combinado aos dois pacotes de estímulos aprovados pelo Congresso em 2020 - a Lei de Auxílio, Ajuda e Segurança Econômica de Combate ao Coronavírus (Coronavirus Aid, Relief, and Economic Security – CARES, no original em inglês), sancionada pelo presidente Donald Trump em março, e a Lei de Auxílio  Econômico à Covid-19 (COVID-19 Economic Relief Bill), assinada por Trump em dezembro no valor de US$ 900 bilhões -, o Congresso e o presidente ofereceram US$ 200 bilhões por mês em cortes de impostos e aumentos de gastos para compensar uma queda mensal de US$ 30 bilhões de receita. O poder de compra adicional do qual desfrutaram os lares reforçou suas finanças e evitou estresses, mas também deu força à inflação.

Enquanto isso, episódios de escassez e interrupções à cadeia de abastecimento associados à Covid impediram as empresas de dar conta dessa demanda ampliada. A escassez de condutores afetou a fabricação de automóveis, por exemplo, fazendo disparar os preços de carros novos e usados.  

E, mais importante, houve o fracasso do Federal Reserve em antecipar pressões inflacionárias e agir de modo preventivo. O Fed esperou até março de 2022, quando a inflação global estava quase em 8%, para começar a aumentar as taxas de juros. Se o Fed tivesse começado a se movimentar um ano antes, quando a inflação começou a acelerar, as coisas teriam terminado de modo diferente.

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É provável que historiadores futuros atribuam o fiasco do Fed à tendência da instituição de olhar condições econômicas pelo retrovisor. O risco real e presente para grande parte da década anterior vinha sendo a deflação, e não a inflação. Levou tempo – muito – para os tomadores de decisões monetárias reconhecerem que as circunstâncias tinham mudado e reagirem de acordo.

Além disso, a política monetária é um objeto contundente para lidar com a inflação causada, ainda que em parte, por choques negativos de abastecimento. Com as interrupções na cadeia de fornecimento já generalizadas, o Fed tinha razão de temer que altas preventivas da taxa de juros, mesmo que evitassem a inflação, piorariam as condições já ruins de abastecimento e  corroeriam uma economia ainda frágil.

Assim, os EUA podem ter dado tacadas certeiras na inflação, mas o governo Biden foi responsável por apenas um dos três acertos. As interrupções no abastecimento relacionadas à covid não foram culpa de Biden. Tampouco o governo foi responsável pela resposta atrasada do Fed. De fato, Biden exerceu moderação ao não pressionar o banco central a manter sua postura de acomodação, comparado a presidentes anteriores como Richard Nixon e Donald Trump.

Agora que a inflação das despesas de consumo pessoal está de volta a cerca de 3%, queda de quase dois terços de seu auge, será que Biden receberá mais crédito por suas conquistas econômicas? A resposta dependerá, primeiro, de se há um amplo reconhecimento do público de que a inflação está recuando. Qualquer compreensão desse tipo não será imediata. Choques às expectativas da inflação de curto prazo tendem a levar tempo. Preocupações antigas sobre a inflação podem ter um impacto mensurável sobre as expectativas e temores quanto à inflação de curto prazo.

É provável que esta lentidão das crenças em se adaptar às atuais condições econômicas seja ainda mais pronunciada numa era de fake news, em que consumidores e eleitores recebem informações por meio de câmeras de eco midiáticas que dizem a eles só o que estão acostumados a escutar. Se for dito a eles que a inflação desgovernada ainda é um problema mesmo quando não é, o atraso perceptual pode ser indefinido.

Biden devia se gabar de suas outras conquistas. Um índice de desemprego de 3,5% é uma conquista. Índices de desemprego historicamente baixos para negros e hispânicos são uma conquista. Assim como o fato de que o crescimento nominal dos salários para americanos negros em empregos de tempo integral em 2022 foi de 11,3%, comparado a 7,4% para a força de trabalho de modo geral. Esses são sinais de que a “economia do gotejamento invertido” de Biden está funcionando.

Mas o presidente, para evitar parecer panglossiano, deveria reconhecer que a inflação tem sido uma realidade dolorosa para os americanos. Ele deveria enfatizar que a magnitude do problema está sendo bastante reduzida. Ele deve confiar que o Fed fará isso acontecer. E deve torcer para que os mitos políticos não afoguem realidades estatísticas durante os próximos 15 meses.

Tradução por Fabrício Calado Moreira

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