NAIROBI – Enquanto a economia global passa por uma transformação fundamental para se descarbonizar até 2050, a questão para África reside em saber se conseguirá industrializar-se e desenvolver-se rapidamente sem combustíveis fósseis. A resposta a esta questão é um retumbante “sim”, desde que a comunidade internacional consiga celebrar um novo pacto global para a emergente economia verde.
Um novo pacto deveria incluir pelo menos três compromissos centrais. Primeiro, a comunidade internacional deveria criar um fundo para a energia verde que promovesse uma transição energética justa em África. Isto fomentaria o empreendedorismo local no sector das energias verdes, nomeadamente na indústria verde, nas cadeias de aprovisionamento, no acesso a mercados e em inovações tecnológicas verdes.
Segundo, um consenso global tem de reconhecer que as exportações de matérias-primas são o motivo essencial para que África permaneça pobre, apesar da sua vasta riqueza em minérios e mercadorias. A comunidade internacional deveria rejeitar a situação vigente e, para o terceiro pilar do pacto global, desenvolver um enquadramento para o investimento na indústria verde em África.
Isto pode tomar o formato de joint ventures globais e de parcerias estratégicas para construir fábricas em África, dando prioridade a projectos verdes. É através da indústria e do desenvolvimento de uma economia de valor acrescentado que África pode chegar à industrialização acelerada, a transferências de conhecimento e de tecnologia e a reduções substanciais da pobreza.
O Quénia proporciona um modelo para reconfiguração da transição energética. Ambicionamos construir uma sociedade do conhecimento digital e sustentável que seja diferenciada, aberta, inclusiva e democrática. Será impelida pela investigação, pela inovação e pela gestão prudente dos nossos recursos naturais no âmbito de uma economia diversificada. Pretendemos tornar-nos um líder global em todas as vertentes da economia verde, nomeadamente na financeira, nas tecnologias de informação e comunicação (TIC), na ciência de dados, na investigação e desenvolvimento e na indústria.
A nossa ambição é acompanhada pela nossa história. Quando as fintech davam ainda os seus primeiros passos, o Quénia emergiu como líder global no sector, com a invenção do sistema de pagamentos digitais M-Pesa. A seguir, só em 2009, atraímos investimentos de raiz no sector do software e das TI de 63 países. Hoje, acolhemos empresas globais como a Microsoft, a Alphabet (Google), a Cisco, a Oracle, a IBM, a Abbott Laboratories e a Meta (Facebook). Enquanto centro emergente global de TIC, o Quénia é hoje considerado um dos países mais inovadores de África.
No campo ambiental, a filha querida do Quénia, a falecida Wangari Maathai, recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2004 por criar o Movimento Green Belt, uma campanha global inovadora para proteger os ecossistemas e abordar as ligações entre pobreza, água potável, segurança alimentar e alterações climáticas. E antes, em Outubro de 1973, o Quénia tornara-se o primeiro país do Sul Global a albergar uma agência das Nações Unidas. O Programa das Nações Unidas para o Ambiente tem desde então a sua sede no Quénia, e hoje funcionam aqui mais 23 agências da ONU.
O Quénia é também líder no sector das energias renováveis, com 75% da sua electricidade produzida por energia solar, geotérmica, eólica e hídrica. Com a utilização de redes inteligentes descentralizadas e de mini-redes verdes, poderemos chegar aos 100% com as energias renováveis e simultaneamente expandir rapidamente a electrificação rural para promover a inclusão digital e financeira.
Mas o Quénia está apenas a começar. Dispomos de vastos recursos naturais. Temos depósitos importantes de terras raras e de metais críticos, essenciais para os veículos eléctricos (VE) e para outras tecnologias necessárias à promoção da descarbonização. Se forem utilizados devidamente, estes minerais poderão ser os componentes essenciais de indústrias, infra-estruturas e cadeias de aprovisionamento sustentáveis e verdes. Ao promovermos a indústria verde, poderemos criar uma grande quantidade de empregos bem remunerados e retirar milhões de pessoas da pobreza. Os “produtos verdes” de elevada qualidade e produzidos de acordo com as melhores e mais modernas práticas atingem preços mais elevados. Ao promovermos indústrias de valor elevado, estimularemos o nosso maior recurso: as energias e os talentos dos nossos jovens.
Mas esta transição obrigará a investir em infra-estruturas verdes e no capital humano necessário para sustentar os ecossistemas das empresas verdes. Por este motivo, acredito que o Quénia, tal como muitos países em desenvolvimento, tem de transformar a indústria verde numa prioridade nacional. Poderemos conseguir uma evolução rápida nesse sentido se descarbonizarmos e aumentarmos a produtividade nos sectores agro-industriais, como o algodão, os têxteis e o vestuário. Também temos de reestruturar a indústria siderúrgica para que produza “aço verde” de elevada qualidade e temos de produzir uma maior quantidade dos produtos de valor elevado que dependam das terras raras e dos metais críticos tão abundantes no Quénia.
O mesmo se aplica a toda a África. Imagine-se chocolate produzido inteiramente no Gana ou na Côte d’Ivoire. Imaginem-se baterias para VE produzidas na República Democrática do Congo e aço verde do Quénia. Imagine-se o cobre inteiramente processado na Zâmbia e diamantes exportados como produtos finais do Botsuana. Imagine-se África a tornar-se o principal produtor global de hidrogénio verde e o líder em tecnologias para captura de carbono. Imagine-se um continente que pode saltar etapas e posicionar-se à frente do resto do mundo na tecnologia, I&D, indústria e finanças verdes.
Esta é uma visão realista. Mas obrigará a um novo pacto global. Com o apoio pleno da comunidade internacional, através de apoios financeiros adequados e de um enquadramento para promoção da indústria verde e para desencorajar as exportações de matérias-primas de África, países como o Quénia poderão definir o ritmo da criação das economias sustentáveis do século XXI, retirar milhões de pessoas da pobreza e garantir o futuro do nosso planeta.
NAIROBI – Enquanto a economia global passa por uma transformação fundamental para se descarbonizar até 2050, a questão para África reside em saber se conseguirá industrializar-se e desenvolver-se rapidamente sem combustíveis fósseis. A resposta a esta questão é um retumbante “sim”, desde que a comunidade internacional consiga celebrar um novo pacto global para a emergente economia verde.
Um novo pacto deveria incluir pelo menos três compromissos centrais. Primeiro, a comunidade internacional deveria criar um fundo para a energia verde que promovesse uma transição energética justa em África. Isto fomentaria o empreendedorismo local no sector das energias verdes, nomeadamente na indústria verde, nas cadeias de aprovisionamento, no acesso a mercados e em inovações tecnológicas verdes.
Segundo, um consenso global tem de reconhecer que as exportações de matérias-primas são o motivo essencial para que África permaneça pobre, apesar da sua vasta riqueza em minérios e mercadorias. A comunidade internacional deveria rejeitar a situação vigente e, para o terceiro pilar do pacto global, desenvolver um enquadramento para o investimento na indústria verde em África.
Isto pode tomar o formato de joint ventures globais e de parcerias estratégicas para construir fábricas em África, dando prioridade a projectos verdes. É através da indústria e do desenvolvimento de uma economia de valor acrescentado que África pode chegar à industrialização acelerada, a transferências de conhecimento e de tecnologia e a reduções substanciais da pobreza.
O Quénia proporciona um modelo para reconfiguração da transição energética. Ambicionamos construir uma sociedade do conhecimento digital e sustentável que seja diferenciada, aberta, inclusiva e democrática. Será impelida pela investigação, pela inovação e pela gestão prudente dos nossos recursos naturais no âmbito de uma economia diversificada. Pretendemos tornar-nos um líder global em todas as vertentes da economia verde, nomeadamente na financeira, nas tecnologias de informação e comunicação (TIC), na ciência de dados, na investigação e desenvolvimento e na indústria.
A nossa ambição é acompanhada pela nossa história. Quando as fintech davam ainda os seus primeiros passos, o Quénia emergiu como líder global no sector, com a invenção do sistema de pagamentos digitais M-Pesa. A seguir, só em 2009, atraímos investimentos de raiz no sector do software e das TI de 63 países. Hoje, acolhemos empresas globais como a Microsoft, a Alphabet (Google), a Cisco, a Oracle, a IBM, a Abbott Laboratories e a Meta (Facebook). Enquanto centro emergente global de TIC, o Quénia é hoje considerado um dos países mais inovadores de África.
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No campo ambiental, a filha querida do Quénia, a falecida Wangari Maathai, recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2004 por criar o Movimento Green Belt, uma campanha global inovadora para proteger os ecossistemas e abordar as ligações entre pobreza, água potável, segurança alimentar e alterações climáticas. E antes, em Outubro de 1973, o Quénia tornara-se o primeiro país do Sul Global a albergar uma agência das Nações Unidas. O Programa das Nações Unidas para o Ambiente tem desde então a sua sede no Quénia, e hoje funcionam aqui mais 23 agências da ONU.
O Quénia é também líder no sector das energias renováveis, com 75% da sua electricidade produzida por energia solar, geotérmica, eólica e hídrica. Com a utilização de redes inteligentes descentralizadas e de mini-redes verdes, poderemos chegar aos 100% com as energias renováveis e simultaneamente expandir rapidamente a electrificação rural para promover a inclusão digital e financeira.
Mas o Quénia está apenas a começar. Dispomos de vastos recursos naturais. Temos depósitos importantes de terras raras e de metais críticos, essenciais para os veículos eléctricos (VE) e para outras tecnologias necessárias à promoção da descarbonização. Se forem utilizados devidamente, estes minerais poderão ser os componentes essenciais de indústrias, infra-estruturas e cadeias de aprovisionamento sustentáveis e verdes. Ao promovermos a indústria verde, poderemos criar uma grande quantidade de empregos bem remunerados e retirar milhões de pessoas da pobreza. Os “produtos verdes” de elevada qualidade e produzidos de acordo com as melhores e mais modernas práticas atingem preços mais elevados. Ao promovermos indústrias de valor elevado, estimularemos o nosso maior recurso: as energias e os talentos dos nossos jovens.
Mas esta transição obrigará a investir em infra-estruturas verdes e no capital humano necessário para sustentar os ecossistemas das empresas verdes. Por este motivo, acredito que o Quénia, tal como muitos países em desenvolvimento, tem de transformar a indústria verde numa prioridade nacional. Poderemos conseguir uma evolução rápida nesse sentido se descarbonizarmos e aumentarmos a produtividade nos sectores agro-industriais, como o algodão, os têxteis e o vestuário. Também temos de reestruturar a indústria siderúrgica para que produza “aço verde” de elevada qualidade e temos de produzir uma maior quantidade dos produtos de valor elevado que dependam das terras raras e dos metais críticos tão abundantes no Quénia.
O mesmo se aplica a toda a África. Imagine-se chocolate produzido inteiramente no Gana ou na Côte d’Ivoire. Imaginem-se baterias para VE produzidas na República Democrática do Congo e aço verde do Quénia. Imagine-se o cobre inteiramente processado na Zâmbia e diamantes exportados como produtos finais do Botsuana. Imagine-se África a tornar-se o principal produtor global de hidrogénio verde e o líder em tecnologias para captura de carbono. Imagine-se um continente que pode saltar etapas e posicionar-se à frente do resto do mundo na tecnologia, I&D, indústria e finanças verdes.
Esta é uma visão realista. Mas obrigará a um novo pacto global. Com o apoio pleno da comunidade internacional, através de apoios financeiros adequados e de um enquadramento para promoção da indústria verde e para desencorajar as exportações de matérias-primas de África, países como o Quénia poderão definir o ritmo da criação das economias sustentáveis do século XXI, retirar milhões de pessoas da pobreza e garantir o futuro do nosso planeta.